Um tanto quanto artificial.
O diretor Neill Blomkamp chamou minha atenção ao dirigir e produzir o excelente Distritor 9, um filme de ficção científica, ação e boa abordagem com crítica social. Seu filme seguinte, Elysium manteve o ritmo, o que certamente era esperado para o curioso Chappie.
Nesta empreitada, Blomkamp volta a se direcionar ao gênero ficção científica, mas desta vez abordando uma maior miscelânea de gêneros com o objetivo de trazer maior variedade à produção. Chappie, simpático robô que dá nome ao filme é fruto de uma ambiciosa experimentação do cientista Deon (Dev Patel), que tem por objetivo ampliar sua área de pesquisa para uma criação capaz de aprender com inteligência artificial. A ideia surge cheia de dificuldades, como defende a diretora (Sigourney Weaver) da empresa em que trabalha: "Sou presidente de uma empresa bélica! Como acha que justificaria investir em um robô que aprende no ritmo de uma criança?". Bom, a partir daí o que se vê é justamente o protagonista se virando para levar adiante sua ideia de criar um experimento de aprendizado artificial perfeito, mesmo que para isso tenha que furtar conteúdo da empresa em que trabalha.
Como era de se esperar, Deon aproveita um robô sucateado para implementar as informações na memória do protótipo, porém, por uma obra do acaso, o "recém-nascido" vai parar nas mãos de bandidos que se aproveitam dele, ou pelo menos pretendem, para o roubo que salvaria suas vidas. Por se tratar de algo em processo de aprendizado, a naturais dúvidas acabam subvertidas em respostas equivocadas ou mentirosas, fazendo o simpático robozinho a crer em pessoas que o levam a ações divertidas de se ver mas com cunho ilegal.
O que se vê no desenrolar do enredo confuso e pouco inspirado nos mantém presos graças às fortes e impactantes presenças dos astros Hugh Jackman, Dev Patel e Sigourney Weaver. Estando eles em posições extremas ou intermediárias, a presença de pelos menos dois deles em cena sempre gera bons resultados, pena não serem tantas, já que os músicos e atores amadores Yo-Landi (Yo-Landi Visser) e Ninja (Ninja Visser) e suas roupas coloridas ao extremo são os que mais tem tempo em cena junto a Chappie.
Bom, esteticamente falando é perceptível que Blomkamp tinha em mãos um orçamento menor se comparado a seus filmes anteriores, haja vista que as cenas de ação são poucas, mas eficientes, bem montadas e até usam de técnicas de câmera lenta bem apuradas para dar maior impacto à situação. A pouca diversidade de efeitos visuais e ambientes também deixam isso claros, embora o excelente LUNAR (do diretor Duncan Jones) seja exemplo máximo de que isso é irrelevante dependendo de como utilizado.
Falando da abordagem principal, de tratar a implementação da inteligência artificial e suas resultantes, talvez o diretor desejou demais e não soube exatamente como aplicar isso, pois Chappie ora aprende muito rápido ora é um asno, longe da proposta do próprio Deon ao programar a memória do robô. Ainda mais bizarro, embora seja fruto de merchandising descarado da co-produtora SONY, é a utilização de vários PlayStation 4 unidos para servir de processamento e compilador de conteúdos complexos. A ideia é interessante, mas a razão disso ser feito é desastrosa e pouco dinâmica.
No final das contas Chappie apresenta uma série de coisas rebuscadas, vilões em lados distintos, sejam eles bandidos ou funcionários egoístas, cores acentuadas para mostrar o lado periferia da sociedade e uma proposta cinematográfica muito ambiciosa para um diretor em ascensão, isso nos deu um filme morno, com um desfecho bobo demais e longe da alta expectativa gerada por um projeto tão interessante conceitualmente.