Em seu primeiro ato, “Chappie”, filme dirigido e co-escrito por Neill Blomkamp, faz uma discussão muito parecida – porém não tão aprofundada – quanto a que assistimos em um longa como “Robocop”, de Paul Verhoeven, e que ganhou um remake no ano passado dirigido pelo brasileiro José Padilha. Em ambas as obras, a tecnologia é utilizada pelo homem com o fim de defesa e de proteção, na medida em que são criadas forças militares compostas por robôs cuja características principais são a de executar as tarefas que lhe são designadas sem qualquer tipo de questionamento às ordens recebidas.
Entretanto, da mesma forma como ocorre em “Robocop”, as cabeças pensantes por trás dos dois projetos refletem sobre a necessidade de trazer mais humanidade ao processo de criação dessas forças militares. É aí que Deon Wilson (Dev Patel), o projetista por trás dos robôs, decide evoluir o seu primeiro protótipo, nascendo Chappie, um robô especial e talentoso; uma “alma” naturalmente boa, repleta de inocência e ingenuidade diante daquilo que é totalmente novo para ele.
É aqui que o filme dirigido por Neill Blomkamp começa a se diferenciar do de Paul Verhoeven/José Padilha. A criação de Chappie não atende a princípios econômicos ou ao desejo de aceitação da população. Pelo contrário, Chappie foi criado para mostrar que os robôs podem, sim, possuir capacidade de pensar e de sentir por si mesmos. O retrato da adaptação de Chappie ao mundo, em seu conflito interno entre os valores passados pela gangue de ladrões que o “adota” e a sua natural identificação com seu criador Deon, é, definitivamente, o ponto mais positivo do longa.
Entretanto, “Chappie” peca nas suas tramas paralelas, especialmente na que envolve o personagem de Hugh Jackman, um veterano de guerra cujo projeto de criação de um mega robô destruidor fica totalmente em segundo plano devido ao sucesso dos robôs policiais criados por Deon. No final, “Chappie” acaba tendo mais semelhanças com filmes como “A.I. – Inteligência Artificial”, de Steven Spielberg, na medida em que nos mostra até que ponto pode chegar a influência humana dentro do universo robótico, bem como que os robôs podem, sim, ter mais semelhanças com a nossa espécie do que todos nós imaginamos.