O filme não é uma cinebiografia sobre o famoso diretor de cinema inglês, contando sua vida e trajetória, mas sim, especificamente sobre os bastidores das filmagens de Psicose, em 1959. Muito do que é mostrado no filme foi baseado em pesquisas do autor do livro adaptado, e trás interessantes informações, desconhecidas da maior parte do público, como por exemplo que Alfred Hitchcock foi obrigado a hipotecar sua própria casa para garantir o investimento necessário para produzir o filme, já que nenhum estúdio estava disposto a filmá-lo, alegando que o assunto era demasiadamente "trash", mais adequado a uma produção "B" e indigno do talento do diretor.
Hitchcock mostrou a todos que ele estava certo, e que na verdade ele estava acompanhando a evolução das audiências, e não estava mais disposto a ficar se repetindo, como queriam os produtores. Psicose foi o sucesso que se sabe - maior bilheteria do ano em todo mundo, e uma das maiores da década de ´60 - consagrando-se como o filme mais popular e reconhecido do mestre do suspense. A trama e principalmente a famosa cena do chuveiro foi exaustivamente copiada, referenciada e homenageada por diversos outros diretores. Psicose foi até refilmado em `98, pelo diretor americano Gus Van Saint (que eventualmente faz ótimos filmes), num remake desnecessário e patético, repetindo o original quadro a quadro, somente agora em cores e outros atores, é claro. Mereceu o fracasso que se seguiu, confirmando a tese que em clássicos não se mexe.
A premissa de Hitchcock - o filme, é realçar a importância nas sombras do sucesso do filme da esposa do diretor, Alma Reville. A frase promocional do filme faz referência ao dito popular "por trás de um grande homem existe sempre uma grande mulher". Alma colaborou bastante com os filmes de Hitchcock principalmente na época em que ele ainda dirigia na Inglaterra, quando inclusive participou dos roteiros, mas este tipo de colaboração passou a ser mais sutil quando o sucesso o levou à Hollywood. Por isto é aceitável as suposições levantadas no filme quanto à sua colaboração no filme Psicose, lhe atribuindo ideias como a de eliminar a personagem feminina principal logo nos primeiros 30 minutos do filme. Mas é pouco provável e verossímil imaginar que ela possa ter substituído Hitchcock na direção de algumas cenas. Quem já leu algumas de suas entrevistas ou mesmo o famoso livro "Hitchcock/Truffaut", sabe o quanto o diretor era minucioso na composição de seus filmes, utilizando sempre o story-board como guia na pré-produção, e evitando ao máximo refilmar cenas, sabendo sempre o que fazer na hora da filmagem, numa técnica astuta para evitar que os produtores, que à época mandavam e desmandavam quanto à edição final dos seus filmes, pudessem alterar a sua concepção original. Hitchcock era extremamente astuto na construção da trama de seus filmes, a ponto de sempre se colocar no lugar do espectador para sondar como ele reagiria a cada cena, evitando que alguém pudesse dizer ou pensar "já sei o que vai acontecer agora".
É claro que Hitchcock - o fime filme talvez se tornasse desinteressante se ficasse centrado somente nos bastidores de Psicose. Mas, sinceramente, a ideia de mostrar uma possível traição, embora não efetivamente consumada, de sua esposa com o amigo Whitfield Cook toma tempo demais e não leva a lugar algum. O pretexto, no entanto, serve para mostrar a superioridade de interpretação de Helen Mirren frente à costumeira caricatura na composição de Anthony Hopkins, que também não se beneficiou de uma maquiagem não muito eficiente (mas que recebeu uma imerecida indicação ao Oscar). Vale destacar a incrível semelhança física (que eu não havia percebido antes) do ator James D´Arcy com o retratado Anthony Perkins.
De qualquer maneira, no somatório final, Hitchcock - o filme tem uma boa fluência narrativa e se beneficia do tema abordado - os bastidores de um clássico amado e referenciado do cinema popular - fazendo dele uma boa opção de diversão sem compromisso, se ao menos você não estiver muito exigente na hora de assisti-lo.