Em 2003, o sucesso de Piratas do Caribe foi uma surpresa, afinal, um filme baseado numa atração temática do parque de diversões da Disney não teria muito a oferecer. Com um elenco formidável e uma condução narrativa dinâmica, o diretor Gore Verbinski conseguiu fazer um dos melhores filmes de aventura da década passada – complementando o ciclo principal de personagens com mais dois filmes em seguida, garantindo uma trilogia gostosa de acompanhar – mas, sem Verbinski, cometeram o deslize de fazer o desnecessário Navegando em Águas Misteriosas – dando a entender que não haveria muita razão em prosseguir com a saga de um personagem tão carismático e divertido quanto o Capitão Jack Sparrow de Johnny Depp.
E agora chegamos ao quinto capitulo desta franquia – que parece tentar criar um novo destino para a saga – trazendo de volta personagens da trilogia original. Mas a falta de uma trama diferente, que fuja dos caminhos adotados nos filmes anteriores, é um fato que impede que este A Vingança de Salazar seja um longa memorável – a impressão que se tem é que existe alguma timidez por parte dos roteiristas em querer elaborar uma trama mais ousada, o que, de fato, desperdiça algumas boas sacadas e atuações – como é o caso do vilão Salazar, vivido pelo sempre visceral Javier Bardem, que mesmo por trás de alguns bons efeitos especiais para ressaltar a maldição por traz de seu personagem, que virou uma espécie de zumbi sedento por vingança, se sobressai graças à inquietude do ator – mas decepciona pelas motivações do roteiro, que o deixam apenas como um homem sedento por vingar-se dos piratas.
A trama deste quinto capitulo, que agora é comandado pela dupla norueguesa de diretores, Joachim Ronning e Espen Sandberg, acompanha Jack Sparrow tentando voltar a conquistar respeito entre os piratas, já que não possui mais um grande barco como o Pérola Negra. Quem cruzará seu caminho, primeiramente, será o jovem Henry Turner (Thwaites), filho de Will Turner (Bloom), que, devido a uma maldição, está condenado a viver de baixo das águas nas ruinas do antigo Holandês Voador – a única forma de quebrar o feitiço em seu pai, seria através de um artefato chamado Tridente de Poseidon, que pode ser encontrado graças à bússola mágica de Jack – mas quem também precisa do Tridente é o sinistro Capitão Salazar, sedento por conseguir se livrar de sua maldição (e de seus capangas), além de querer se vingar de Sparrow, responsável pela condição atual do capitão espanhol. A cientista Carina Smyth (Scodelario) se unirá a Jack e Henry, enquanto o ex-inimigo/amigo de Sparrow, o Capitão Barbossa (Rush) tentará lidar com Salazar.
Com algumas nuances interessantes entre alguns personagens, como é o caso da curiosa cientista Carina (confundida como bruxa pelo povo do século XVII) da eficiente Kaya Scodelario e um certo tratamento mais atencioso para a personalidade do Capitão Barbossa do ótimo Geofrey Rush, revelando detalhes de seu passado, o roteiro, infelizmente, deixa a desejar quanto ao restante, desperdiçando, inclusive, a participação de outros personagens antigos, como o Will de Orlando Bloom – até mesmo Keira Knightley fica só para uma ponta pouco expressiva. Além do pouco carisma do jovem Brenton Thwaites, que ainda desenvolve um romance sem muita química com Carina. E Johnny Depp faz quase nada de diferente do que já fez pelo seu Jack Sparrow – o roteiro o limita a proferir suas caretas e piadas por motivos que não agregam a narrativa – como nos capítulos passados – tornando-se menos engraçado, de fato. Não é de todo sem graça – mas fica devendo momentos de humor como suas trapalhadas dentro de uma roda de madeira gigante em O Baú da Morte ou seus problemas com as “pedras brancas” em No Fim do Mundo.
Justamente as lembranças da trilogia original que tiram o brilho do longa: até mesmo os efeitos especiais e ação parecem dever em criatividade aos filmes antigos – não existe uma criatura como o Kraken ou até mesmo o Davy Jones de Bill Nighy – restam aqui a caracterização boa (já citada) do Salazar de Bardem e um tubarão-morto-vivo – mas, de resto, nada diferente ou novo. E quanto à ação, o filme decepciona um pouco – o único momento expressivo é a tentativa de Jack e seus comparsas em roubar um banco no começo – no melhor estilo absurdo das animações do Pernalonga ou Tom & Jerry – roubam o banco levando... o banco inteiro. Já as batalhas marítimas e confrontos com espada em nada se diferem das que já vimos antes, pouco ajudadas pela trilha-sonora, que comete a infame gafe de utilizar pouco o clássico tema da franquia, composto originalmente por Hans Zimmer – a enérgica “He’s a Pirate” só aparece, praticamente, nos créditos finais.
Enfim, acaba por ser apenas um espetáculo “mais do mesmo” – que traz poucas esperanças de que a franquia possa continuar bem – nem a cena pós-créditos consegue inspirar isto – tornando, lamentavelmente, o Jack Sparrow de Depp em um personagem que começa a dar sinais de desgaste, devido à falta de capricho e inventividade dos roteiristas envolvidos.