Há muitos filmes sobre a Revolução Francesa. Mais especificamente sobre a rainha Maria Antonieta, temos o recente filme de Sophia Coppola. Adeus, Minha Rainha trás, no entanto, variantes e novidades sobre o tema, que o tornam extremamente interessante, independente de sua precisão histórica. Aliás, a maior crítica que o filme recebeu dos historiadores foi insinuar um romance da rainha com uma nobre, uma platônica paixão homossexual. Dizem eles que pesquisando sobre o assunto, a autora do livro em que o filme se inspira se deixou levar por mais esta maledicência popular da época, que só tinha o propósito de denegrir ainda mais a imagem da rainha tão odiada pelo povo francês pré-revolução.
Mas o aspecto principal e mais interessante do filme é construir os últimos dias de Versalhes através dos olhos de seus ocupantes, nobres e serviçais. Distantes quilômetros da vila de Paris, os acontecimentos, a revolta popular e a crescente ameaça ao poder da monarquia chega até eles de modo sutil. A Revolução em si nunca é mostrada, pois o filme nunca abandona o Palácio, mostrando a rotina de seus ocupantes, muitos deles envolvidos com questões insignificantes, como se nada estivesse acontecendo.
Não é difícil perceber que esta é uma versão bem feminina (ou feminista) do assunto. O Rei Luis XV é quase um figurante no filme, centrado em Maria Antonieta, Sidonie e a Duquesa de Polignac. A criada da rainha, Sidonie, tem por ela profunda admiração, o que a faz se submeter a um arranjo de Maria Antonieta para fazer sua amiga, a Duquesa de Polignac escapar do castelo, antes que seja tarde.
Muitas vezes, no cinema, o que não é visto tem mais impacto. Em Adeus, Minha Rainha há um clima no ar no Palácio de Versalhes, e o diretor habilmente nos transmite o medo, a angústia, a dúvida e a apreensão de seus ocupantes. Para isso, colaboram um time de atores formidáveis e uma reconstituição de época atenta aos mínimos detalhes, criando uma impressão de tempo real aos desenrolar da trama, o que faz com que o espectador se sinta lá, como testemunha silenciosa e invisível dos acontecimentos.