Às margens da revolução
por Lucas SalgadoA revolução francesa, a queda da Bastilha e o cerco ao Palácio de Versalhes já foram retratados diversas vezes nas telonas. Obras como Danton - O Processo da Revolução, Casanova e a Revolução e A Marselhesa retrataram o período de forma marcante através dos talentos de nomes como Andrzej Wajda, Ettore Scola e Jean Renoir, respectivamente. Isso sem falar em Maria Antonieta, de Sofia Coppola. Adeus, Minha Rainha surge para retratar justamente o dia a dia de Versalhes às vésperas de sua tomada. E faz isso de forma muito interessante, escolhendo uma protagonista às margens dos debates políticos.
A atriz francesa mais requisitada dos últimos anos, Léa Seydoux vive a personagem principal, Sidonie Laborde. Ela é a leitora oficial de Maria Antonieta (Diane Kruger) e ao mesmo tempo que se incomoda com o fato de ser muito requisitada, ela se sente feliz de ter a confiança da rainha e de outros ilustres moradores de Versalhes.
Isolados do dia a dia movimentado de Paris, os funcionários do palácio vagam pelos corredores para servir seus mestres. Eles não sabem o que acontece na capital, mas estão atentos às conversas por debaixo dos panos. Especialmente Sidonie, que se revela muito curiosa. Ao ficar sabendo da tomada da Bastilha, a jovem se choca, mas em momento algum se revela assustada.
Esse lado dúbio da protagonista é uma das principais qualidades do filme. Ela ao mesmo tempo que não se mostra muito feliz com seu posto, se sente honrada de tê-lo. Além disso, sabe que a fidelidade é algo eminente de sua atuação e acaba aceitando desafios e ordens nada saudáveis.
O filme segue a característica da personagem principal e também é dúbio no sentido de que retrata um momento político sem tratar necessariamente de política. O espectador é colocado no posto de um dos empregados de Versalhes. Ouve burburinhos, mas não sabe concretamente de nada. E isso não é prejudicado nem pelo conhecimento histórico da decapitação de Maria Antonieta, por exemplo, uma vez que a preocupação de quem está assistindo está direcionada à humilde funcionária e não à família real.
O diretor Benoît Jacquot (Escola da Carne) mostra um grande talento na condução da narrativa, que não perde o ritmo e também não entedia o espectador. O elenco, por sua vez, é irregular. Por mais que Seydoux brilhe na pele da protagonista, Kruger mais uma vez se mostra uma atriz fraca, não dando a Maria Antonieta todo o destaque que merecia. A opção por interpretar uma rainha fágil e insegura é interessante, mas isso foi prejudicado pela performance blasé da atriz. A bela Virginie Ledoyen surge na pele de Gabrielle de Polignac, papel meio desperdiçado e que ganha uma cena de nudez pra lá de desnecessária (ao contrário da cena de Seydoux). Xavier Beauvois interpreta o Rei Luís XVI, de pequena participação, mas marcante.
Está longe de ser um filme perfeito. Possui um excesso de personagens e não aprofunda numa série de questões abertas, como o passado da protagonista e a relação entre Antonieta e Gabrielle. Mas é eficaz ao criar uma personagem interessante às margens de um dos momentos históricos mais importantes. Outra qualidade da obra é saber quando terminar, não fazendo a opção pelo mais sensacionalista.