Conflitos Internos
por Francisco RussoA homossexualidade já foi retratada nos cinemas de várias formas, seja estereotipada (The Birdcage – A Gaiola das Loucas) ou com uma abordagem mais séria (Minhas Mães e Meu Pai). Tomboy entra neste universo trazendo como novidade a idade da protagonista. Em plena pré-adolescência, não há ainda impulsos sexuais em Laure (Zoé Héran, de uma delicadeza impressionante). Ela simplesmente gosta de se vestir como menino e de ficar entre eles, sem intenções ocultas. É o tomboy do título, termo dado a garotas que seguem traços masculinos.
O curioso é que, apesar de revelada no próprio título, o filme mantém esta dubiedade de início. O cabelo curto e as roupas típicas de qualquer garoto servem de contraste com os traços delicados do rosto, de forma a provocar no espectador a dúvida sobre qual é o sexo da criança retratada. A resposta vem da forma mais explícita possível: uma rápida cena após o banho, onde o corpo dela é revelado. Simples e direto.
A preferência em lidar com garotos ganha tons mais sérios quando Laure diz ser um menino, Mikaël, para as crianças da vizinhança à qual acabou de se mudar. Para ela é a consagração de uma vontade interior, sem medir possíveis riscos e consequências. Levando uma vida dúbia, já que seus pais nada sabem sobre a nova identidade, ela busca meios para driblar problemas óbvios de anatomia de forma a manter o contato com os novos amigos. A situação fica ainda mais perigosa quando Lisa (Jeanne Disson), uma nova amiga, se apaixona por “ele”.
Tomboy chama a atenção por ser um filme que aborda o homossexualismo sem levantar bandeiras ou até mesmo envolver a questão sexual, algo raríssimo. De forma naturalista, pode ser apontado como os primeiros indícios de um conflito interno entre quem é e quem gostaria de ser, que ganhará proporções cada vez maiores nos anos seguintes. Ponto positivo também para a mãe de Laure, pelo discernimento sobre qual é o problema após a verdade vir à tona. Bom filme.