O conflito de gerações faz despertar o desejo de retornar aos tempos de juventude florescer em um casal de quarentões enquanto que os jovens do século XXI anseiam em vivência uma época que eles apenas conhecem de livros de histórias e da internet. “Enquanto Somos Jovens” nos apresenta uma inversão de papéis que representa a sociedade atual.
Noah Baumbach, diretor do ótimo Frances Ha, nos apresenta ao casal Cornelia e Josh Srebnick, interpretados por Naomi Watts e Ben Stiller respectivamente, que se encontram em um momento de sua vida em que estão sendo pressionados pelas regras tradicionais da sociedade, que consiste em constituir família e ter uma vida financeira estável, ao mesmo tempo em que ele tenta finalizar o seu documentário em produção há quase dez anos. Diante deste cenário eles esbarram nos jovens Jamie (Adam Drive) e Darby (Amanda Seyfield), que fogem do estereótipo da juventude moderna.
A imersão de duas pessoas de meia idade nos rituais e costumes praticados pela juventude atual, como dança de rua (hip-hop) e uma vida de tribo, com pessoas que compartilham do mesmo ideal, proporciona alguns momentos divertidos que não chegam a ser engraçados, mas é possível soltar sorrisos de satisfação por vê-los entretidos com algo novo e fora de sua realidade habitual. A exploração deste “novo” mundo pelos personagens principais traz um olhar diferente sobre a geração Y, conhecida pela alta conectividade com dispositivos móveis e por ser a geração do imediatismo, que quer tudo pra ontem e tem dificuldades de permanecer no mesmo estado por muito tempo.
A questão da paternidade e maternidade é mencionada sem profundidade, ela é inserida na história no início do filme, mas não há um desenvolvimento, não sendo a base para as dificuldades que o casal enfrenta ou o ponto de escape que leva os protagonistas para o relacionamento com os jovens hipster, você só é lembrado desta questão novamente quando o filme já está em seu fim, uma abordagem mais aprofundada do tema seria um acréscimo para o desenvolvimento da trama, uma vez que o motivo que leva Josh e Cornelia a embarcar no estilo de vida mais jovial é quase que banal, sendo mais por conta de uma crise dos quarenta.
A introdução dos personagens de Adam Drive e Amanda Seyfield tem a intenção de representar como a juventude do século XXI percebe o mundo ao seu redor, uma geração que não se preocupa em como ganhará dinheiro, que vive um dia de cada vez sem preocupação. Em termos de atuação, Drive cumpre bem o papel de mexer com o imaginário de Josh, mas Seyfield deixa a desejar com sua inexpressiva caracterização, a sua personagem também não colabora, pois ela não tem serventia para trama a não ser para um momento muito pontual no final do filme, que poderia ter se desenrolado de uma forma mais caprichada.
A cultura hipster não passa uma representatividade crível, eles parecem hippies genéricos, mas sem o apreço pela arte moderna que eles tentam transmitir.
Apesar de conter momentos novelescos, “Enquanto Somos Jovens” pode ser apreciado sem compromissos e complexidade, entregando atuações competentes do Ben Stiller e Naomi Watts que tem uma química até que peculiar, vale uma tarde chuvosa e em baixo das cobertas para curtir esta comédia dramática.