O filme não é nem belo, nem feio; é simples e profundamente realista. São a secura, a crueza e a dureza as características mais preponderantes de "Amor"; contudo, é justamente essa falta exacerbada e minuciosa de sentimentalismo, que traz à tona, no maior dos paradoxos, o sentimentalismo exorbitante que consagra o filme como uma grande obra. Isto, porque, nada mais, nada menos, "Amor" adere à forma do como a realidade cobre a nossa vida: o espaço e o tempo, por si só, desenrolam-se em uma formidável impassividade, mas adentro do ser humano, essa tamanha impassividade é ativa, ganha perspectivas, transborda, racha e vibra de sentimentos. O autor, aqui, prova a completude entre filme e telespectador, entre realidade e espectadores: se se exalta a objetividade e o caráter científico, impõe-se a subjetividade, a introspecção e a sensibilidade, se se exprime como realidade, transforma-se em inúmeras ficções no estalar dos segundos, se não há trilha sonora (como no filme), então nós mesmos criamos as mais diversas e exóticas melodias. Um filme sem dúvida claustrofóbico e envolvente, que, embora muito usual à condição humana, serve de despertador para muitos no que diz respeito à inevitabilidade das limitações, da incerteza e das oscilações de nossa existência.