Comédia romântica com casal cheio de química é prato cheio para os fãs do gênero, mesmo com "melancolia" de Sydney Sweeney
por Aline PereiraPouco tempo depois de toda a questão Olivia-Wilde-Florence-Pugh-Harry-Styles que precedeu (e ajudou!) o lançamento de Não Se Preocupe, Querida em 2022, chega aos cinemas mais um título cuja história começa nos bastidores. Antes mesmo do lançamento do filme, a química entre os protagonistas de Todos Menos Você virou objeto de interesse graças aos rumores de um suposto envolvimento entre os dois na vida real.
Se há algum fundamento ou não nestes boatos, não se sabe, mas o fato é: a comédia romântica do diretor Will Gluck (Amizade Colorida) funciona porque, ainda que gabarite os clichês, cumpre o principal requisito do gênero: um casal com quem conseguimos simpatizar e pelo qual conseguimos torcer. Quem chegar ao filme porque já gosta do elenco ou porque gostou do que viu nos trailers não tem muito com o que se preocupar: Todos Menos Você não faz grandes promessas, mas entrega o combinado.
A história do longa começa com o clássico “meet cute”: Bea (Sydney Sweeney) e Ben (Glen Powell) são dois jovens bonitos e levemente traumatizados que se encontram por acaso em uma situação toda atrapalhada. Apesar da paixão instantânea, uma série de desencontros acaba separando os dois, que voltam a se encontrar graças a uma coincidência que só as comédias românticas fornecem: o parente de um conhece um amigo de outro e o casal é forçado a conviver novamente.
A partir, o longa envereda para o também clássico “enemies to lovers”, inimigos que se apaixonam. Cada um com suas motivações individuais, Bea e Ben decidem fingir que são um casal durante uma viagem em família para a Austrália.
Todo Mundo Menos Você completa a checklist de cenas e dramas de seu gênero – o que, como você pode imaginar, leva uma história completamente linear e previsível. A questão é que, no caso de uma trama como essa, é difícil ver essas repetições como um problema propriamente dito.
Digo isso especialmente porque temos um tipo de filme que te diz EXATAMENTE o que esperar e dificilmente pegará algum espectador desprevenido. Se você chegou a ele porque já gosta dos protagonistas, porque gostou dos trailers divulgados ou porque estava só com vontade de assistir a alguma comédia romântica nova, vai encontrar o que estava esperando.
Glen Powell e Sydney Sweeney seguem à risca a cartilha do casal tradicional: com os corpos milimetricamente dentro dos padrões de beleza hollywoodianos, os dois desfilam de seminus durante a história toda. O mesmo acontece com os coadjuvantes: o filme moderniza as histórias paralelas com diversidade étnica e de sexualidade, mas esteticamente falando, não há nada fora do padrão. Em 2024, após uma boa amostra de romances que apresentam elementos mais originais ao longo dos últimos anos, como Mais Que Amigos, Podres de Ricos, Você Nem Imagina, entre outras – talvez esse retorno ao padrão torne Todos Menos Você menos atrativo do que seria se tivesse sido lançado no início dos anos 2000.
O longa é assinado por Will Gluck, diretor que já tem experiência no gênero com outras produções como Annie, A Mentira, entre outros. Ele também é co-autor do roteiro do longa que, inclusive, é adaptado livremente de Muito Barulho Por Nada, uma das comédias mais populares de William Shakespeare – seria um exagero dizer que existe uma alusão muito profunda à obra do mestre do romance, mas o longa faz algumas referências pertinentes.
Quando as fotos das gravações de Todos Menos Você começaram a aparecer pela internet, a proximidade entre Glen Powell e Sydney Sweeney chamou atenção – era fácil apostar em uma química entre eles que, de fato, está no filme. A dupla encontrou uma boa dinâmica para elevar a tensão sexual e o trabalho deles juntos é o que verdadeiramente traz o potencial. Individualmente, nem tanto.
Em Euphoria, série da HBO, as cenas dramáticas de Sydney Sweeney chamaram a atenção para uma intensidade magnética e foi ela quem protagonizou alguns dos momentos mais lembrados das primeiras temporadas. Na comédia, entretanto, o resultado é peculiar: embora sua personagem carregue alguns dilemas emocionais, a atriz tem um ar melancólico bastante pesado – aspecto que, inclusive, virou piada no meio da história.
Glen Powell (que também teve alguns papéis mais dramáticos em Top Gun: Maverick e Estrelas Além do Tempo) parece ter mais facilidade para encontrar a leveza necessária. No ator, parece mais certeiro o timing da comédia, especialmente nos momentos em que precisa provocar a sensação de “vergonha alheia” – que é o que predomina neste filme.
Aqui, vale uma menção ao quadro de personagens secundários, que são muitos. A equipe de coadjuvantes faz o que pode nos momentos em que ganham destaque, mas não têm muito o que explorar em seus personagens. Todas as ações deles são direcionadas aos protagonistas, ainda que, vez ou outra, o roteiro tente incluir informações aleatórias para dar algum contexto a eles.
Entre os coadjuvantes, alguns destaques especiais vão para Alexandra Shipp (Barbie) e Bryan Brown (Pássaros Feridos), que conseguem tornar seus personagens figuras com mais personalidade. Entre os rostos mais conhecidos, especialmente por quem já está mais familiarizado com o gênero, temos Darren Barnet, de Eu Nunca…, da Netflix. Para as gerações mais antigas, o ator Dermot Mulroney, protagonista do clássico O Casamento do Meu Melhor Amigo ao lado de Julia Roberts, certamente traz uma “homenagem” ao gênero.
Seguindo o beabá de seu gênero e aproveitando a fórmula para criar uma sessão da tarde agradável e divertida, Todos Menos Você é um filme honesto. Se antes, Não Se Preocupe, Querida não conseguiu manter o filme tão interessante quanto os acontecimentos de seus bastidores, a comédia de Glenn Powell e Sydney Sweeney realizou, em tela, quaisquer fanfics que o público possa ter imaginado antes.