Muita gente falando que A Negociação é um thriller qualquer, como qualquer outro. Não podia discordar tanto. A história não chega a ser brilhante, mas a condução de roteiro, atuações, e principalmente, da direção de Nicholas Jarecki faz esse filme ser um verdadeiro achado dentro do mercado de thrillers atual de Hollywood.
Por meio de uma trama linear e instigante, o roteiro nos apresenta um verdadeiro representante de anti-herói do Cinema. Porque não há explicação melhor para a figura de Robert, do que essa. E por isso é tão notório que o roteiro, inicialmente, nos faça criar tanta simpatia pelo personagem, para que, com o desenvolvimento de suas ações, possamos começar a desejar exatamente o contrário para aquele individuo tão egoísta e maquiavélico. Isso, claro, para aqueles que comprarem a história desde o início.
Richard Gere, aliás, entrega uma construção de personagem capaz de deixar qualquer um boquiaberto. Eu, que sempre o achei bem mais ou menos, tenho que concordar que aqui ele é, sem dúvidas, o maior destaque, por transpôr com maestria todos as contradições, erros e incoerências de seu personagem principal, sem nunca perder de vista as suas reais intenções. É de se observar as diversas vezes que, com muita naturalidade, Robert acabe "explodindo" com os demais personagens, num momentâneo descontrole, e no instante seguinte termine por pedir desculpas, voltando ao controle total da situação, convencendo seu interlocutor, e principalmente, nós espectadores, de que suas intenções questionáveis são perfeitamente aceitáveis.
A presença, sempre luminosa, de Susan Sarandon também é de se destacar. E sua personagem, jamais descartável, nos traz a uma das geniais sacadas do filme, quando, em seus momentos finais, nos deparamos com a verdadeira "arbitrage" - ou "negociação", feliz tradução nacional - a qual o título se refere. Mas, o destaque coadjuvante do filme fica mesmo com Brit Marling que, com poucos momentos em cena, coloca toda a força - e impotência - de sua personagem em evidência.
Diante de tantos êxitos, não tem como não aplaudir tudo em A Negociação. Condução de roteiro magistral; direção concisa, poderosa e sempre deixando bem claro o que quer; trilha-sonora sensacional, que acompanha todos os momentos tensos do filme com sabedoria ímpar; atuações, quando não excepcionais, muito corretas... Um daqueles raros filmes do estilo que dão verdadeiro orgulho de se ver.
Não tem como não elogiar o final desse filme. Tentando, a todo o tempo, se aproximar da realidade, Nicholas Jarecki alcança seu objetivo, explicitando todo o domínio da história que tem em mãos. E por isso, não tinha como Robert se dar mal depois de tudo o que fez. O brilhantismo em transformar todas os seus atos em uma espécie de prêmio, no fim das contas, é de se causar reflexão. Afinal, quantos Roberts e Julies não devem acontecer, regularmente, na vida real? Será que algum deles chega a ser punido pela lei?
E da arte, a realidade.