O título original do filme “A Negociação”, dirigido e escrito por Nicholas Jarecki, se refere ao termo arbitragem, que, por sua vez, faz referência a um tipo de operação de compra e venda em que o arbitragista utiliza o espaço de tempo existente entre o momento da compra e o instante da venda para conseguir o maior lucro possível. Apesar da trama do longa ter como personagem principal um magnata do mercado financeiro interpretado por Richard Gere, na realidade a tradução do título da obra em português me parece ser mais adequada, tendo em vista que, no decorrer dos 107 minutos de “A Negociação”, assistimos a Robert Miller fazendo uma série de transações em que, tanto a sua vida pessoal como a sua vida profissional, parecem ser – para utilizar uma metáfora do mercado financeiro – ativos, em que o que importa é o ganho que ele irá obter com aquilo.
Neste sentido, o roteiro escrito por Nicholas Jarecki constroi de uma forma impecável o personagem Robert Miller. Ele é uma pessoa fria, calculista e extremamente egoísta, que não mede as consequências de seus atos. Para ele, o mais importante é se safar e, para isso, ele não mede esforços e nem vê que os atos que ele comete acabam prejudicando e mexendo com as vidas de outras pessoas – por exemplo, Robert Miller não tem medo nem de correr o risco de acabar por completo com a vida profissional de sua própria filha (Brit Marling), a quem ele tem muita afeição e considera como herdeira de tudo aquilo que ele construiu com seu trabalho.
Entretanto, o grande ponto de virada de “A Negociação” ocorre quando Robert Miller comete um erro que, ao que tudo indica, não poderá ser jogado para debaixo do tapete. Ao se envolver em um acidente de carro que acaba vitimando a sua amante (a ex-modelo e, agora, atriz Laetitia Casta) e, consequentemente, passar a ser investigado pela polícia, Miller vê a possibilidade real de que o escândalo, caso venha à tona, acabe não concretizando a venda de seu império comercial – e ele necessita que esse negócio se confirme. A verdade é que “A Negociação” mostra que a vivência desse revés pessoal acaba detonando toda uma má fase para Miller – e, pela forma como ele vai reagindo a tudo, parece que isso é algo inédito em sua vida.
Por isso mesmo, o elemento mais importante de “A Negociação” é a atuação de Richard Gere. Merecidamente indicado ao Globo de Ouro 2013 de Melhor Ator em um Filme de Drama, este, talvez, seja o melhor trabalho da carreira do ator norte-americano, na medida em que Richard Miller permite que ele – acostumado aos papeis de galã – possa mostrar um outro lado, ao interpretar alguém repleto de falhas de caráter e que não vai conseguir amealhar a simpatia do plateia. Há também que se louvar a honestidade do roteiro escrito por Nicholas Jarecki, que não fez concessões em busca de um final moralista. “A Negociação” é um filme tenso, que prende a atenção do público e que faz um retrato muito pertinente e coerente com o mundo corrupto, amoral e antiético em que estamos inseridos.