E para o caso de não nos vermos mais, Bom Dia, Boa Tarde e Boa Noite!
O SHOW DE TRUMAN (The Truman Show
Lançado em 1998, O Show de Truman é dirigido por Peter Weir e escrito por Andrew Niccol. O longa narra a história de Truman Burbank (Jim Carrey), um homem normal, com uma vida normal, casado, bem sucedido profissionalmente. Porém, aos poucos Truman começa a desconfiar das coisas e das pessoas ao seu redor e tudo em sua cabeça começa a mudar, até finalmente ele perceber que toda a sua vida era monitorada e passada em um programa de Tv, que era exibido 24 horas para todo o mundo.
O Show de Truman é uma das ideias mais originais que você assistirá na vida. Realmente impressiona o quão inteligente é o roteiro, o quão criativo e funcional é todo o enredo criado e trazido para o filme (o roteiro foi inspirado no episódio "Special Service" de Além da Imaginação de 1985). É um filme gostoso de acompanhar, que nos prende com naturalidade, que se desenvolve de uma maneira cada vez mais interessante. O longa se inicia de uma forma normal, mostrando o dia a dia de pessoas/famílias normais, que logo vai mudando o seu rumo e o seu tom e aumentando cada vez mais as nossas expectativas. É nesse ponto que o roteiro de Andrew Niccol funciona de uma forma esplendorosa, ao nos despertar a curiosidade e o espanto.
Além da curiosidade, O Show de Truman traz uma série de pontos discutíveis, como as críticas à sociedade sobre o existencialismo, a realidade simulada, a manipulação, tudo que criamos e vivemos no dia a dia, que muita das vezes pode ser encarado com um reality show imposto pelos próprios governos totalitaristas, como no caso do Truman. Você já parou pra se perguntar se realmente somos livres na sociedade? Realmente vivemos em um livre-arbítrio perante os olhos dos nossos governos? Estes são pontos muito bem discutidos ao longo do filme, que mesmo lançado em 1998 não deixa de ser um filme muito atual (esta é mais uma das grandezas desse roteiro atemporal). Ao longo do filme acompanhamos a falsa existência de Truman, a sua vida moldada pelo governo que o controlava de todas as formas, tudo pra garantir um espetáculo televisivo ao seu favor. Truman era uma pessoa normal? Tinha uma vida normal? Ele era feliz? Você pode até considerar que sim, mas tudo fútil, tudo falso, tudo moldado, tudo vazio, tanto que quando ele começar a desconfiar, ele começa a buscar respostas, ir atrás da sua existência.
Confesso que eu só conhecia o Jim Carrey pela suas comédias, não conhecia este seu lado mais dramático, mostrado nesse filme e em outros que eu preciso assistir. Jim Carrey é a escolha perfeita para o papel, difícil imaginar o Truman sendo vivido por outro ator. Jim não deixa de lado o seu humor, e é nisso que o Truman funciona perfeitamente no roteiro, por se mostrar uma pessoal feliz com sua esposa, alegre com seus vizinhos, espontâneo com todos ao seu redor. Porém a partir daí vemos uma grande virada no personagem de Jim, que deixa de lado a comédia e entra no drama, o que o definitivamente o definiu em O Show de Truman.
Jim Carrey é um dos melhores atores de todos os tempos (isso sem nenhuma dúvida), um dos caras mais versátil, espontâneo e genial do mundo hollywoodiano. É aquele ator que todo mundo gosta (menos a academia), tudo mundo admira, todo mundo se empolga nos seus trabalhos, que construiu personagens icônicos ao longo de sua carreira. Em O Show de Truman Jim Carrey dá um verdadeiro show em frente das câmeras, me surpreendeu e me deixou boquiaberto com sua performance. Uma atuação segura, que navegou da comédia ao drama com muita propriedade, da construção e desconstrução de um personagem com muita originalidade - realmente um trabalho primoroso!
Muitos acreditavam em uma possível indicação ao Oscar para Jim Carrey naquele ano, porém, ele foi completamente esnobado pela academia (não só aqui, ao longo dos anos também). Mas no Globo de Ouro ele levou o prêmio de "Melhor Ator de Drama" e no Saturn Award de "Melhor Ator".
Ed Harris é um grande destaque no filme, interpretando Christof, o criador do Show de Truman. Harris está em altíssimo nível, a partir do momento que ele entra em cena, o longa sobe de produção e fica ainda mais interessante. É muito atraente as cenas que Ed Harris contracena indiretamente com Jim Carrey, principalmente ao chegar na cena final, que é o ápice, o ponto alto de todo o filme, quando nos é passado uma clara alusão de Deus para com nós - incrível (está parte virou uma cena clássica do cinema). Ed Harris foi indicado ao Oscar e ao BAFTA na categoria "Melhor Ator Coadjuvante", no Globo de Ouro, Harris venceu na mesma categoria.
Laura Linney está bem como Meryl/Hannah Gill, a esposa de Truman. Um papel muito curioso, principalmente por Hannah ser contratada para atuar como a esposa de Truman, ter um filho com ele e o fazê-lo feliz. Mas o mais engraçado e vê-la fazendo propagandas de produtos para obter lucro de forma descarada e na frente de Truman. Laura Linney desenvolve bem a sua personagem e entrega uma atuação convincente e na medida certa que o roteiro precisava.
Natascha McElhone fez Lauren/Sylvia, contratada para interpretar uma colega de classe na escola de Truman, porém ele se vê envolvida e atraída por Truman, o que faz ela decidir querer revelar para ele toda a verdade sobre sua vida. Destaco Natascha McElhone exatamente nessa parte da história, ao tentar despertar Truman e ser afastada do programa. Ela entrega uma atuação muito bem performada, com doses dramáticas na medida certa, que direciona o rumo do roteiro a partir de então.
Ainda devo destacar Noah Emmerich, que fez Marlon/Louis Coltrane, o amigo de infância de Truman, e que prometeu não mentir para ele - é muito interessante o seu personagem. E Brian Delate, Kirk Burbank, o pai de Truman. Grande responsável pelo desenrolar do roteiro a partir dos medos e traumas de Truman envolvendo o seu passado. Um personagem importantíssimo na história, tanto no início quanto no final, e que funcionou direitinho.
No Oscar de 1999, O Show de Truman foi indicado em três categorias: "Melhor Diretor" para Peter / "Melhor Ator Coadjuvante" para Harris / "Melhor Roteiro Original" para Niccol, mas não venceu em nenhuma. No Globo de Ouro o longa levou os prêmios de "Melhor Ator de Drama" / "Melhor Ator Coadjuvante" / "Melhor Trilha Sonora Original", além das indicações para "Melhor Filme de Drama" / "Melhor Diretor" / "Melhor Roteiro". No BAFTA o longa foi nomeado em sete categorias, vencendo em três. No Saturn Award foi nomeado em 5 categorias e venceu em duas. E por fim, venceu o Hugo Award de Melhor Apresentação Dramática.
Peter Weir nos entregou um filme importante, original, criativo, atemporal e acima de tudo divertido e gostoso de assistir. O Show de Truman é um grande espetáculo, um grande barato, que funciona de diversas formas e propostas, principalmente nas críticas, que diretamente e indiretamente cutucou a sociedade naquela época e continua até hoje, 21 anos depois. [15/06/2019]