Top Gun: Maverick
"Top Gun: Maverick" é dirigido por Joseph Kosinski e escrito por Ehren Kruger, Eric Warren Singer e Christopher McQuarrie a partir de uma história de Peter Craig e Justin Marks. O filme é uma sequência de "Top Gun - Ases Indomáveis" de 1986. Tom Cruise reprisa seu papel principal como o aviador naval Pete "Maverick". O longa-metragem foi baseado nos personagens do filme original criado por Jim Cash e Jack Epps Jr. No filme, Pete "Maverick" confronta seu passado enquanto treina um grupo de jovens graduados em Top Gun, incluindo o filho de seu falecido amigo, para uma missão perigosa.
Mesmo com toda falta de reconhecimento que "Top Gun - Ases Indomáveis" tem hoje em dia, não há como negar que ele é um dos maiores clássicos do cinema dos anos 80. Assim como também não há como negar o peso e a importância que o filme teve pra história do cinema, toda influência que moldou gerações e, principalmente, foi o filme responsável em catapultar a carreira do grande astro Tom Cruise. Se não fosse por todo sucesso e toda relevância que o longa fez em sua época, "Top Gun: Maverick" não existiria e Tom Cruise não estaria de volta ao posto que lhe consagrou há 36 anos atrás.
Não é sempre que uma continuação consegue superar a obra original, aqui temos este caso, pois "Top Gun: Maverick" supera o primeiro em praticamente tudo (tirando a trilha sonora, é claro). Tudo que "Ases Indomáveis" fez "Maverick" faz melhor - roteiro, enredo, desenvolvimento de personagens, atuações, romance, cenas de ação aéreas, peso dramático, ou seja, "Top Gun: Maverick" é uma verdadeira evolução de "Ases Indomáveis". Este é exatamente um dos pontos que eleva ainda mais toda qualidade alcançada por "Top Gun: Maverick", a sua essência oitentista, a sua nostalgia, o seu saudosismo, todo o seu Fan service. Isso que todo filme de continuação deveria fazer, criar, ter sua liberdade criativa, mas preservar a memória da obra original e manter toda a sua essência.
O longa já começa mexendo com a nossa memória afetiva e com o nosso coração ao entregar um verdadeiro Fan service já na primeira cena ao som da icônica "Danger Zone"(Kenny Loggins). Ali eu já sabia tudo que eu poderia esperar, tudo que estaria me aguardando, e não deu outra. O filme trabalha muito bem esse lado nostálgico, esse sentimento saudosista, principalmente ao nos entregar vários Fan service (sim, era exatamente isso que eu queria), como a cena clássica da moto contra o Jato e até revivendo a lendária cena do jogo na areia da praia.
Um dos pontos falhos do primeiro "Top Gun" estava justamente no roteiro e no desenvolvimento dos personagens, aqui o roteiro trabalha muito bem este lado ao apostar em uma trama focada em Pete "Maverick" Mitchell, nos mostrando como ele está depois de mais de 30 anos de serviço como um dos principais aviadores da Marinha. O velho Pete "Maverick" está de volta rompendo as barreiras e os limites como um piloto de testes corajoso e destemido. Porém, todo reconhecimento obtido durante toda sua vida/carreira parece ter sido em vão, uma vez que ele tinha deixado de ser capitão para se tornar um instrutor (apesar de ter demonstrado essa vontade no primeiro filme). A partir daí vamos acompanhando um Pete "Maverick" à moda antiga porém em um mundo contemporâneo das guerras modernas e avançadas.
O maior acerto do roteiro foi confrontar um Pete "Maverick" mais velho com uma turma de jovens pilotos com personalidades diferentes para serem treinados por ele. Ou seja, temos aqui um contraponto de um Pete "Maverick" com suas ideologias, suas rebeldias, sua imposição, contra um fator humano, um fator diferente do que ele estava acostumado, que era justamente ser um instrutor e ter que lidar com outras vertentes, com outras camadas, que era o fato dos seus traumas do passado envolvendo a morte do seu amigo Nick "Goose" (Anthony Edwards). Este é o ponto melhor trabalhado e melhor desenvolvido pelo roteiro do longa, que é justamente o peso da morte do "Goose" pelo fator de culpa ou não. De qualquer forma o peso está ali, os medos estão ali, os traumas estão ali, precisam ser enfrentados, precisam ser vividos, precisam ser libertados.
Todo esse desenvolvimento em cima do trauma da morte do "Goose" é ainda melhor composto com o fato do Pete "Maverick" ter que ensinar e agora conviver com o filho dele, Bradley "Rooster" Bradshaw (Miles Teller). Cria uma desconfiança, um mistério, uma tensão, um embate de ideias que explora e confronta o passado traumático de ambos. O roteiro explora e desenvolve muito bem esta parte da trama ao mesclar um filme de ação com um filme dramático, com uma construção dramática, com um peso dramático, com uma narrativa dramática. Funciona perfeitamente toda essa questão da convivência do Pete "Maverick" com o Bradley "Rooster", onde o próprio chega a afirmar que tenta ser uma espécie de pai para o filho do seu amigo "Goose". Pete "Maverick" tem toda uma carga dramática com um peso sentimental que nos emociona e nos faz sentir na pele o peso das suas decisões, da sua missão, dos seus ensinamentos, das desconfianças que vão aparecendo - é um roteiro fantástico!
A parte romântica do primeiro "Top Gun", que é vivido por Tom Cruise e Kelly McGillis, tem todo o seu charme e sua nostalgia, principalmente pela hit clássico, romântico e inesquecível de "Take My Breath Away" (Berlin). Porém, eu senti um romance raso, faltou um aprofundamento. Aqui posso dizer que o casal Tom Cruise e Jennifer Connelly me convenceu até mais, até mesmo na construção e desenvolvimento romântico, que sim, não é uma grande história de amor, mas encaixa perfeitamente com o rumo tomado pela história. E não posso deixar de destacar a belíssima canção da poderosa Mother Monster Lady Gaga - "Hold My Hand" - que embalou a parte romântica do longa.
Confesso que eu não sou um fã dos trabalhos do diretor Joseph Kosinski, o mesmo vale para seus filmes como "Tron: O Legado" (2010) e "Oblivion" (2013), que pra mim são filmes fracos. Porém, dessa vez ele me surpreendeu, me deixou encantado com todo o seu trabalho de câmeras, seus takes dentro dos Jatos, seus focos nos rostos dos pilotos, que nos transmitia a verdadeira magia e empolgação vivida em cada cena - magnífico! O filme nos empolga e nos impressiona pelo realismo alcançado nas cenas de voos e acrobacias, e justamente pelo fato do Tom Cruise também atuar como produtor e exigir que aeronaves reais fossem usadas nas sequências aéreas, não CGI. Outro ponto: os atores passaram por treinamento intenso junto com a marinha dos EUA. No treinamento o elenco aprendeu a ejetar, sobreviver embaixo d'água e teve experiências primeiro com aviões a hélice, depois jatos, para enfim entenderem como pilotar o caça F/A-18 Hornet, usado no filme. O próprio P-51 Mustang da Segunda Guerra Mundial visto neste filme é na verdade o próprio avião de Tom Cruise, ele sendo um piloto talentoso na vida real - isso que eu chamo de capacidade de ostentação.
"Top Gun: Maverick" entrega cenas aéreas belíssimas, um verdadeiro deleite, uma verdadeira magia, com combates aéreos impressionantes, alucinantes, de tirar o fôlego. Eu nunca assisti um filme que me transportasse para dentro de um voo como em "Top Gun: Maverick", que me demonstrasse a beleza exuberante através de um Jato Supersônico. Você sente na pele a mesma emoção que Pete "Maverick", você se maravilha com ele, é apaixonante, é maravilhoso, é fantástico.
Tecnicamente o filme também é perfeito! Uma verdadeira obra-prima!
A fotografia é escandalosamente linda e triunfal. As tomadas aéreas nos impressiona em 100% das cenas. A direção de arte é riquíssima em detalhes que agregam ainda mais à obra. A cenografia, a montagem, a edição, a mixagem de som, a ambientação, tudo feito com perfeição, atingindo um alto nível de excelência que eu não via no cinema há alguns anos. A trilha sonora é outro ponto perfeito no filme (assim como também foi em "Ases Indomáveis"). Podemos considerar que o trabalho de Hans Zimmer, Harold Faltermeyer e Lady Gaga estão impecáveis, tanto pela trilha sonora, pela composição das letras, do fundo musical, instrumental, harmonia, sintonia, tudo 100% perfeito. Aquela típica trilha sonora que transmite o peso do filme.
Tom Cruise é o verdadeiro vinho da sétima arte, vai ficando mais velho e vai ficando cada vez melhor. No alto dos seus 60 anos o grande Tom nos surpreende por ainda manter toda sua obsessão pelo desafio pessoal. Tom ainda se desafia constantemente ao exigir gravar cenas sem o uso de dublês, como faz na franquia "Missão Impossível", e aqui não foi diferente. Isso que eu chamo de amor pela arte, amor pelo trabalho, amor pela atuação, amor pela interpretação, amor pela entrega, por se doar constantemente em prol do seu objetivo maior. Tom Cruise nos dá uma verdadeira aula de como se desafiar e se superar diariamente na vida.
Em "Top Gun: Maverick" o grande Tom está soberbo, divino, magnífico, com toda sua bagagem e toda sua experiência ele simplesmente dá um show do início ao fim. Tom consegue nos passar uma postura de Pete "Maverick" mais enérgico, mais destemido, mais desafiador, porém com um lado mais descolado, mais suave, mais romântico, mais brincalhão, mais paizão mesmo. Por outro lado ele também impressiona ao carregar toda carga dramática de um personagem que está buscando se estruturar e se recuperar dos erros e traumas do passado.
Temos algumas cenas envolvendo o Tom Cruise que já podem ser consideradas emblemáticas e icônicas - como a cena em que ele retorna para a base de Top Gun e rever as fotos dele com o "Iceman" no primeiro filme. Você percebe pelo próprio olhar do Tom Cruise toda a sua nostalgia e emoção. A cena em que ele reencontra o Comandante Tom "Iceman" Kazansky, o grande Val Kilmer, também é uma cena apoteótica. A própria cena em que ele veste a eterna jaqueta de "Maverick" de "Top Gun - Ases Indomáveis".
É claro que falando de "Top Gun - Ases Indomáveis", romance e a música "Take My Breath Away" vamos nos lembrar do casal Tom Cruise e Kelly McGillis. Também não há como negar o desejo de todos nós que este casal fosse revivido depois de 36 anos, porém isso definitivamente não foi possível devido a própria Kelly McGillis, que disse que começou a trabalhar menos em Hollywood para se dedicar à família e se manter sóbria e que não fazia grande questão de ver a sequela nos cinemas. Dessa forma o par romântico de Tom Cruise ficou à cargo de Jennifer Connelly, que entregou um trabalho bem feito, bem atuado, que conseguiu convencer com aquele romance problemático.
Miles Teller foi a escolha perfeita para viver o filho de "Goose", ele conseguiu incorporar bem no personagem, conseguiu transcender todos os traumas, os medos, as desconfianças, conseguiu cenas ímpar com o Tom Cruise. A cena com eles dois se ajudando para se salvar a bordo do F-14 é incrível e emocionante - que cena belíssima!
Tivemos a presença ilustre do grande Val Kilmer, que apesar de estar enfrentando todos os seus problemas de saúde fez questão de está presente representando o seu icônico personagem.
O grande ator Ed Harris também teve a sua contribuição com seu personagem Chester "Hammer" Cain.
E completando o elenco com a equipe de jovens pilotos treinados por Pete "Maverick": Jake "Hangman" Seresin (Glen Powell), Natasha "Phoenix' Trace" (Monica Barbaro), Robert "Bob" Floyd (Lewis Pullman), Reuben "Payback" Fitch (Jay Ellis) e Javy "Coyote" Machado (Greg Tarzan Davis).
"Top Gun: Maverick" foi extremamente aclamado pela crítica, com muitos o considerando melhor que o filme original (inclusive eu, rsrs). Ganhou o prêmio de Melhor Filme do National Board of Review e também foi eleito um dos dez melhores filmes de 2022 pelo American Film Institute. O filme também recebeu vários outros prêmios, incluindo indicações ao Globo de Ouro de Melhor Filme - Drama e ao Critics' Choice Movie Award de Melhor Filme. O longa foi o segundo filme de maior bilheteria de 2022 (pois foi superado por "Avatar: O Caminho da Água") e a maior bilheteria doméstica da Paramount de todos os tempos, superando o clássico "Titanic" (1997). "Top Gun: Maverick" arrecadou USD 1,489 bilhão em todo o mundo, tornando-se o filme de maior bilheteria da carreira de Tom Cruise.
O que é considerado como uma obra-prima? Eu considero um filme como uma obra-prima quando ele me eleva a enésima sensação de satisfação, me desperta inúmeras reações, eu fico feliz, fico triste, me emociono, fico em êxtase, fico nervoso, fico eufórico, fico alucinado, fico nostálgico, fico em estado de choque, e aqui temos todos esses sentimentos aflorados em um misto de reações - é fantástico! "Top Gun: Maverick" é exatamente tudo isso.
Em "Top Gun: Maverick" é difícil julgar com a razão e não com a emoção, é difícil ser criterioso, é difícil ser mais racional e não se deixar levar pelo sentimento da nostalgia, do saudosismo, porém, o filme é tão maravilhoso e tão perfeito que você pode avaliá-lo com a razão, com a emoção, com a nostalgia, sendo criterioso, sendo racional, sendo o que você quiser. O resultado será apenas um - uma verdadeira e magnífica obra-prima do cinema moderno.
"Top Gun: Maverick" é uma belíssima obra, um filme que te empolga ao mesmo tempo que te emociona. Um filme que te desperta inúmeras sensações e reações. Um filme que te representa em vários sentidos. Um filme que une sentimentos mútuos e verdadeiros. Um filme que consegue dosar com maestria um drama, um romance, uma ação e até uma leve comédia. Uma verdadeira obra de arte, um verdadeiro clássico moderno, uma obra-prima contemporânea. Um filme que possivelmente poderá definir toda uma década, poderá influenciar, moldar e até representar toda uma geração (como o próprio "Top Gun - Ases Indomáveis" fez em sua década), e com certeza ficará marcado na história do cinema e será lembrado com uma obra-prima daqui a muitos anos.
Assim como "Avatar: O Caminho da Água", "Top Gun: Maverick" é um dos melhores filmes do ano, da década, entrando para o hall dos melhores Blockbusters de todos os tempos.
Só me arrependo profundamente de não ter assistido esta obra-prima nos cinemas, pois com certeza eu sairia ainda mais impactado e ainda mais emocionado da sessão.
O saudoso Tony Scott ficaria extremamente orgulhoso com essa maravilhosa continuação da sua icônica obra.
"Top Gun: Maverick" já é um clássico!
Encerro ao som de "Top Gun Anthem" - Harold Faltermeyer.
In Memory of Tony Scott!
[20/01/2023]
⭐⭐⭐⭐⭐
👏👏👏👏👏