Uncharted: Fora do Mapa: Crítica AdoroCinema

É inegável que o cinema ainda tenha dificuldades em adaptar jogos para o live-action, que costumam ser criticados por não conseguirem transportar o estilo característico dos videogames. Clássicos como Super Mario Bros, Mortal Kombat, Street Fighter, Tomb Raider e Resident Evil foram levados para as telonas, mas acabaram decepcionando os fãs.

Agora, chegou a vez de Uncharted, uma das franquias mais populares e aclamadas dos videogames dos últimos anos, receber sua adaptação: Uncharted: Fora do Mapa, que coloca Tom Holland como seu protagonista. Será que o filme corresponde às expectativas do público? 

Qual é a história de Uncharted: Fora do Mapa?

Uncharted: Fora do Mapa serve como uma prequela para os jogos, seguindo o jovem Nathan "Nate" Drake (Tom Holland), antes de ser conhecido como um famoso explorador. Ele vivia uma vida pacata como bartender em uma cidade, até que acaba se envolvendo com um estranho que viria ser um dos seus mais confiáveis companheiros.

Na história, acompanhamos sua primeira aventura de caça ao tesouro com o sagaz parceiro Victor "Sully" Sullivan (Mark Wahlberg). Os dois partem em uma perigosa busca pelo "maior tesouro nunca encontrado", na cidade sul-americana de El Dorado, e a aventura acaba se estendendo por todo o mundo, enquanto rastreiam pistas que podem levar ao irmão há muito perdido de Nathan. Porém, mal sabiam eles que seriam perseguidos por um grupo de mercenários que também buscam pelo tesouro perdido.

O desenvolvimento da adaptação de Uncharted acontece desde 2008, mas passou por diversos problemas nos bastidores. Inicialmente, o diretor David O. Russell comandaria o projeto e Mark Wahlberg estava escolhido para interpretar Nathan Drake, só que os planos acabaram não dando certo. Outros cineastas passaram pela produção ao longo dos anos: Neil Burger, Seth Gordon, Shawn Levy, Dan Trachtenberg e Travis Knight, até Ruben Fleischer, conhecido por Zumbilândia (2009) e Venom (2018), assumir definitivamente a cadeira de diretor.

Química entre Tom Holland e Mark Wahlberg garante a diversão!

Uma das principais mudanças da adaptação de Uncharted em relação aos jogos foi a de apresentar um Nathan Drake mais novo, o que funciona no roteiro de Rafe Judkins, Art Marcum e Matt Holloway na introdução da franquia para um diferente público nos cinemas, e como o primeiro capítulo do que pode se tornar uma longa série de filmes. Levando isso em conta, a escolha de Tom Holland como Nathan Drake é perfeita para as ambições do longa e a narrativa funciona pela química entre ele e Mark Wahlberg.

Wahlberg tem longa experiência em filmes de ação, por causa de seu trabalho em Max Payne (outra adaptação dos jogos) e a franquia Transformers, por exemplo. Porém, em Uncharted: Fora do Mapa ele aparece mais como um mentor e cara  experiente, deixando o trabalho mais físico para Tom Holland. Partindo para a primeira caça ao tesouro do protagonista, a relação entre os dois personagens é essencial para a conexão do público – o que funciona por causa da sincronia e química natural entre os atores.

Enquanto temos o destaque em Holland e Wahlberg, os demais personagens compõem bem a trama durante as aventuras, com Chloe Frazer (Sophia Taylor Ali) sendo a parceira misteriosa e imprevisível de Drake e Braddock (Tati Gabrielle) como uma imponente e perigosa combatente. Já Moncada (Antonio Banderas) atua como o principal antagonista desta história, porém acaba sendo uma ameaça um pouco frustrante, especialmente pelas expectativas criadas pela escalação de Banderas para esse papel importante.

Com tudo isso, um dos principais problemas de Uncharted é como aborda de forma direta e apressada sua história, deixando de explorar com mais cuidado o quesito emocional, a relação entre seus principais personagens e o fascínio deles com suas descobertas. Assim, o filme fica completamente dependente da parceria Tom Holland e Mark Wahlberg e parece funcionar no piloto automático, mirando as cenas de ação e aventura. 

Cenas de ação impressionam pelo realismo da adaptação

Assim como a franquia de jogos, o maior chamativo para a adaptação de Uncharted (desde os trailers) são as cenas de ação. E o filme, para a alegria dos fãs, corresponde bem às expectativas e entrega cenas de ação inventivas, bem coreogradas e realistas, conseguindo entregar a fluidez e grandiosidade dos jogos. 

Para isso, um dos pontos-chaves foi a escalação de Tom Holland. O ator ficou conhecido pelo grande público pelo papel de Homem-Aranha no Universo Cinematográfico Marvel, onde foi protagonista de De Volta ao Lar (2017), Longe de Casa (2019) e Sem Volta para Casa (2021). Com esses seus trabalhos anteriores, Holland teve contato com o mundo das acrobacias e desenvolveu bastante sua performance física para subir de nivel e realizar as cenas de ação impressionantes que encontramos em Uncharted.

Evidentemente, existe um trabalho notável de dublês na produção, mas é perceptível que Tom Holland executou uma grande parte das coreografias nas cenas de ação do filme (diversas delas com uso de técnicas de parkour), o que ressalta o realismo, a imersão e o impacto delas no espectador. Aliado à performance física do protagonista, o diretor Ruben Fleischer acerta a mão para filmar essas cenas, optando por planos abertos que mostrem a grandiosidade e sequências que ressaltem as acrobacias ou coreografias de lutas.

Por causa de seu enredo de caça aos tesouros de uma aventura escapista, é impossível não comparar com o clássico Indiana Jones ou até a produções recentes no mesmo estilo como A Lenda do Tesouro Perdido.

Apesar de não reiventar o gênero, Uncharted: Fora do Mapa estabelece bem seus mistérios e aventuras, mas sofre um pouco com a criação de mundo devido a seus efeitos especiais, com um trabalho interessante do design de produção de Shepherd Frankel, aliado à direção de fotografia de Chung-hoon Chung. Ramin Djawadi, de Game of Thrones e Westworld, é reconhecido como um dos melhores compositores da atualidade e sua trilha sonora passa o senso de aventura e descoberta necessário para esse tipo de narrativa. 

Uncharted é a mudança de paradigma necessária para as adaptações de videogames?

Depois do lançamento de diversas adaptações frustantes para o público dos videogames, Uncharted ainda não é o melhor de todos os mundos, mas um sinal positivo de que as coisas podem ser diferentes daqui para frente. Funcionando como uma espécie de introdução para uma franquia nos cinemas (claro, dependendo do sucesso nas bilheterias e entre o público), o filme consegue, acima de tudo, captar a essência do material original e transportar esse universo para os cinemas com naturalidade – o que deve servir de exemplo para as futuras adaptações.

Uncharted: Fora do Mapa introduz uma das principais franquias dos videogames para o público dos cinemas, ao mesmo tempo que honra o material base com cenas de ação realistas e impressionantes, que perecem transportadas diretamente dos jogos. Focado na dinâmica divertida entre seus protagonistas, Tom Holland e Mark Wahlberg, a produção sofre com seus efeitos visuais e falta de emoção na trama, mas é um capítulo promissor para o futuro das adaptações e aparece como uma das séries cinematográficas mais interessantes da atualidade, pelo menos quando se trata de ação e aventura.