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    A Primeira Coisa Bela
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    A Primeira Coisa Bela

    Novelão italiano

    por Francisco Russo

    Existe no modo de ser e agir um certo elo de ligação entre o brasileiro e o italiano. O jeito estabanado, com habilidade para se virar em meio à bagunça que é a própria realidade, e a entrega às grandes paixões fazem com que os povos tenham algo em comum. É o sangue latino pulsando nas veias, diriam os simplistas. Fato é que estas semelhanças sempre aproximaram também o cinema dos dois países. Astros como Marcello Mastroianni e Sophia Loren foram populares no Brasil, assim como diretores do porte de Federico Fellini, Mario Monicelli e Ettore Scola. O tempo passou e esta ligação, pouco a pouco, perdeu espaço nas telonas. Também pela ausência de renovação no cinema italiano, que não conseguiu manter o alto nível de outrora. A Primeira Coisa Bela, de Paolo Virzi, tenta retomar este contato apostando em uma característica comum aos dois povos: o gosto pelo dramalhão.

    A história é típica daqueles novelões carregados, repletos de sentimentos à flor da pele e injustiças assumidas como inevitáveis. Tudo começa em 1971, durante uma festa pública em Livorno. Os organizadores realizam o concurso da mãe mais bonita e, entre as presentes, elegem Anna (Micaela Ramazzotti). Apesar dos aplausos, seu filho Bruno não gosta nem um pouco de tamanha divulgação. O marido Mario menos ainda, tendo uma crise de ciúmes tão logo chega em casa. Acusada de oferecida, ela e os dois filhos são expulsos de casa. É o início de sua peregrinação, de casa em casa e de homem em homem, em busca de condições para criar, sozinha, os filhos.

    Paralelamente, há o presente. Já adulto, Bruno (Valério Mastandrea) trabalha como professor e sente-se sempre infeliz. Os laços com a família fazem parte do passado e ele está prestes a romper também com a noiva. Ou ao menos ameaça tomar tal atitude. Um dia, recebe a visita de sua irmã Valéria (Claudia Pandolfi) no trabalho. A mãe está à beira da morte e quer revê-lo. Bruno reluta, mas aceita voltar a Livorno. O incômodo causado pelo reencontro com a cidade em que cresceu aos poucos é amenizado, à medida que trabalha o conflito interno que sente em relação à mãe.

    É assim, em meio a muitos conflitos familiares e diversas reviravoltas causadas por obstáculos inesperados, que a trama de A Primeira Coisa Bela se desenrola. Entretanto, o assumido clima de novelão impulsionado pelo jeito italiano de ser jamais consegue prender a atenção de fato. Falta humor à história e carisma aos personagens, sustentados quase que exclusivamente na beleza de Micaela Ramazzotti, o que faz com que o espectador pouco se importe com o que acontece com eles. De positivo há apenas a presença de Stefania Sandrelli, interpretando Anna no presente, que impressiona pela vitalidade demonstrada em seu olhar e sorriso.

    Com alguns problemas técnicos – a fotografia nas cenas de flashback é escura demais – e certos diálogos inacreditáveis – "caca de criança é caca de Jesus" (???) –, A Primeira Coisa Bela decepciona também pela metáfora simplista que encerra o filme. Aos saudosistas, pode até servir para trazer um pouco a lembrança de tempos mais criativos e estimulantes vindos da Itália. Aos que simplesmente apreciam cinema, não é nada muito diferente do que telenovelas mexicanas costumam exibir constantemente.

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