Para quem for ao cinema sem esperar mais do que o trailer já indicava, não vai se arrepender e vai ter uma hora e meia de diversão garantida com “Como Sobreviver a Um Ataque Zumbi”. Entretanto, para apreciá-lo você tem que se permitir rir com um filme propositalmente tosco, fazendo ele entrar para sua lista de filmes de “prazeres culpados”. O melhor elogio prático que se pode fazer a um filme de comédia é dizer que ele é eficaz em despertar gargalhadas em diferentes públicos, em vários momentos durante sua exibição, o que ocorre neste. E não se poderia esperar nada diferente de um filme que traz em sua premissa confrontar escoteiros contra zumbis, com uma linguagem similar a dos filmes do Seth Rogen e sua turma, como em “É o Fim” (2013).
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Claro que é importante ressaltar que esse tipo de produção se destina a um público que não vai ao cinema para refletir profundamente, mas, apenas para se divertir por algumas horas. Também, que suas piadas são vulgares, machistas e por isso - no geral - agradam mais aos homens, do que as mulheres. Não que o público feminino não possa se divertir com ele, mas vai depender do grau de desapego crítico, com que cada uma vai assistir.
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O estereótipo do “nerd” tem sido explorado pelo cinema já há bastante tempo em filmes cômicos, não tão tecnicamente apurados como “A Vingança dos Nerds” (1984) ou seriados que exploram esse mesmo recurso incessantemente como “The Big Bang Theory” (2007/2015). Misturar “nerds” e zumbis de forma a subverter tanto o gênero comédia, quanto o terror, já foi feito de maneira mais satisfatória em “Todo Mundo Quase Morto” (2004), mas tratava-se de um filme que exigia uma compreensão de um tipo específico de humor, para ser apreciado. Era só uma questão de tempo para que alguém utilizasse o arquétipo mais clássico para a figura do “CDF”, os Escoteiros, para contar uma história, pois como um dos personagens do próprio longa-metragem afirma, eles são os adolescentes mais preparados para o “Apocalipse dos Mortos-Vivos”.
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Provavelmente o maior mérito de “Scout's Guide To The Zombie Apocalypse” é se utilizar de uma linguagem mais universal, que consegue comunicar com diferentes faixas etárias e contextos culturais. Ainda que o longa abuse de piadas construídas de forma nada “politicamente correta”, no estilo “besteirol americano” - explorando diversas vezes o corpo feminino e cenas que beiram ao escatológico, sendo quase impossível não rir durante a narrativa, mesmo que seu senso crítico não concorde com o tipo de piada. Além disso, destaca-se também a violência gráfica, que vai além do que a maioria dos filmes de comédia se permitem, apresentando uma direção de arte, que mistura maquiagem e efeitos visuais, quase nunca parecendo artificiais demais.
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Este é o segundo trabalho na direção de Christofer Landon, que antes era conhecido por ser roteirista da maioria dos filmes da franquia “Atividade Paranormal” e por dirigir o “spin-off” “Atividade Paranormal: Marcados pelo Mal” (2014). Já neste último citado, London mostrava talento para mesclar terror com comédia, pois este foi o filme mais cômico dentre os roteiros fantasmagóricos que ele escreveu. Em “Como Sobreviver a Um Ataque Zumbi” ele pode utilizar mais a sua verve humorística, de forma extrema. Ainda que seus recursos de direção sejam utilizados de forma óbvia e até preguiçosa, há de se admitir que eles funcionam com o público médio que frequenta os cinemas.
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Mesmo que a trama exagere nas soluções gráficas mal escritas, ela acaba sendo compensada por aspectos técnicos mais eficientes. A trilha sonora embala o ritmo que vai do instrumental, para o Rock, com muito hip-hop e até músicas Pop, como da Britney Spears, sempre no momento certo e sabendo alternar entre uma e outra sem causar conflito na troca de estilos. A edição, também, ajuda muito a manter a atenção do espectador, sem nunca deixar espaço para o tédio. As piadas são tão físicas nesse longa, que o riso dificilmente vem de algum diálogo, tornando este o aspecto mais pobre do roteiro.
A atuação da maior parte do elenco ficou bastante prejudicada por essa falha de escrita, pois por mais que tenham se esforçado, eles não conseguiram fugir da impressão de estarmos assistindo vários esquetes cômicos independentes. Mesmo Tye Sheridan, que se destacou em produções dramáticas independentes como “Mud – Amor Bandido” (2012) e Joe (2013), não parece confortável com o tom farsesco com que teve que interpretar, refletindo seu desconforto em muitos momentos. Da mesma forma não sobrou espaço para desenvolvimento de outros personagens, nem destaque para os outros atores. O único que não causa estranheza nesse ambiente é David Koechner, mas, provavelmente é por que ele parece estar repetindo seus papéis em The Office (2005/2012) e O Âncora - A Lenda de Ron Burgundy (2004), sempre utilizando um humor do tipo “vergonha alheia”.
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Para quem tem mais intimidade com o escoteirismo, como este que voz escreve, que foi um escoteiro na pré-adolescência ou mesmo quem teve um amigo, ou familiar no movimento, vai ter um gosto nostálgico ao assistir o longa-metragem. É uma pena que tenham feito uma adaptação na versão brasileira do título que numa tradução literal teria se chamado “Guia Escoteiro para o Apocalipse Zumbi” e seria mais condizente com o conteúdo. A sua maneira, o filme funciona como homenagem bem-humorada, ainda que estereotipada e exagerada aos “nerds escoteiros”, quase como a feita em “Moonrise Kingdom” (2012), guardadas as devidas proporções de qualidade e humor.