Imersão em 3D
por Francisco RussoO 3D não é uma tecnologia nova, mas seu ressurgimento há alguns anos tem muito a ver com avanços na qualidade de projeção e nos próprios óculos, ainda necessários para a captação dos efeitos. Hollywood não perdeu tempo e logo começou a testá-lo junto ao público. Primeiro em animações e, aos poucos, em filmes com atores. O sucesso de Avatar o consagrou de vez, expandindo as salas 3D mundo afora e tornando-o sinônimo de entretenimento para muitos. Com A Caverna dos Sonhos Perdidos, Werner Herzog mostra que é possível utilizá-lo para outros fins.
O diretor alemão, com vasto currículo em documentários, resolveu não apenas conhecer como também filmar a caverna de Chauvet, uma verdadeira relíquia arqueológica. Descoberta em 1994 e localizada no sul da França, a caverna foi lacrada pela própria natureza. O acaso criou nela um ambiente raro, que permitiu a conservação de seu interior por dezenas de milhares de anos. A geologia do local já seria por si só motivo de estudo, mas havia mais: pinturas rupestres, feitas em períodos variados, e ossos de animais há muito extintos. A caverna de Chauvet é um retrato, muito bem conservado, do que foi a vida do homem pré-histórico.
Tão raro é o ambiente da caverna que pouquíssimos têm permissão para visitá-la. Pesquisadores e historiadores, em sua maioria, e ainda assim sempre com várias regras a serem seguidas, visando a manutenção daquele habitat. Herzog e sua pequena equipe conseguiram autorização para visitá-la. Mais do que um mero filme, A Caverna dos Sonhos Perdidos é a chance de ver algo praticamente inacessível às pessoas, que impressiona não apenas pelo valor arqueológico mas, também, pela beleza dos desenhos e formas geológicas. É justamente neste ponto que entra a importância do 3D.
Com o grau de profundidade ressaltado, característica básica do 3D, é possível ter a nítida visão de como é o interior da caverna de Chauvet. O visual, que já era belo, ganha ainda mais importância pela sensação dada ao espectador de que é possível tocá-lo, graças à percepção tridimensional. O resultado é um verdadeiro espetáculo.
Mesmo com alguns depoimentos interessantes de cientistas, que dão o necessário embasamento técnico não apenas à caverna mas também à sensação que proporciona em quem a visita, são as cenas do interior de Chauvet que prendem de fato o espectador. Muito bom documentário, que abre ainda uma nova possibilidade para o 3D: a de permitir a imersão do espectador em ambientes inacessíveis, de forma que possa percebê-lo da melhor forma possível através da atual tecnologia.