Roger Vadim explora a sensualidade de sua mulher Brigitte Bardot
Estreia do diretor Roger Vadim, na época casado com a estrela do filme, Brigitte Bardot, que já possuía dezessete longas metragens em sua carreira. Claramente, “E Deus Criou a Mulher” é um veículo para fortalecer a imagem da atriz, misturando sua fama na vida real com a personagem que interpreta.
Quando o filme foi realizado, na metade dos anos 1950, começava a crescer a onda de rebeldia juvenil na França e em outros países. O cinema procurava fugir do padrão clássico, o que logo eclodiria na Nouvelle Vague. E ícones desse espírito, como James Dean e Elvis Presley, ganhavam popularidade. Brigitte Bardot surgiu nesse movimento comportamental, com sua sexualidade explosiva e atitude de liberdade, contra os padrões tradicionalistas da sociedade.
Esse embate surge logo no início de “E Deus Criou a Mulher”, quando Juliete (Brigitte Bardot) toma sol nua no quintal e não se importa quando o Sr.Carradine (Curd Jürgens), um homem mais velho, chega para lhe fazer uma visita. Sua mãe adotiva a repreende e ameaça devolvê-la ao orfanato. Além do Sr. Carradine, Antoine (Christian Marquand) também corteja Juliete, e com esse jovem ela troca beijos.
Mas a ameaça de retornar ao orfanato se concretiza e, para fugir desse perigo, ela se casa com o irmão de Antoine, quando este sai da cidade. Ela passa a viver uma vida de casada, com seu novo marido Michel (Jean-Louis Trintignant), controlando seus instintos.
Porém, Antoine retorna, e ela não resiste. Quando o barco onde estava passeando pega fogo, Juliete é salva por Antoine. Na praia, ela aproveita a sensualidade provocada pelas suas roupas em frangalhos e seduz o rapaz. Agora, não é só o barco que arde em chamas.
A partir daí, o sangue de Juliete ferve de desejo. Quando Antoine se recusa a continuar a trair seu irmão, ela parte descontrolada para um bar só de homens, onde dança mambo com os músicos. Essa sequência se torna fetiche para os fãs de Brigitte Bardot. É um longo solo de dança em que ela comprova a sua fama de sensual.
Rodado na belíssima cidade litorânea de St. Tropez, “E Deus Criou a Mulher” explora a beleza do local e de Brigitte Bardot. O filme em si, porém, não apresenta muito mais que isso. A personagem Juliete tem construção superficial, abordando apenas o estereótipo da jovem rebelde, e a ausência de um aprofundamento em sua psique torna difícil aceitar o final da estória.
Roger Vadim, de fato, nunca foi um grande diretor. Seu talento maior era o de seduzir belas mulheres, e filmar com elas. Além de Bardot, Jane Fonda também foi protagonista em um dos filmes de Vadim, “Barbarella”. Em 1973, filmou novamente com Bardot, e fizeram juntos “Se Don Juan Fosse Mulher”. E chegou até a fazer uma versão de “E Deus Criou a Mulher”, em 1988, tendo como protagonista Rebecca DeMornay.
A maioria dos filmes de Vadim explora a sensualidade feminina, e este “E Deus Criou a Mulher” não é exceção.
Por Eduardo Kaneco