Quando decidi escrever sobre The Normal Heart a primeira coisa que me passou pela cabeça foi que boa parte da população deste país nem deve ter conhecimento da existência do longa, aliás, eu nunca saberia da existência do filme se não por um artigo do blog que acompanho. Vale a pena dizer que o filme não é independente e muito menos “alternativo”, pelo contrário, protagonizado por atores famosos de Hollywood como por exemplo: Julia Roberts, Mark Ruffalo, Jim Parsons e outros; Sem contar que, pasmem, foi produzido pela HBO. Sua publicidade aqui no Brasil é quase inexistente, arrisco-me em dizer que isso se deve ao fato de serem muitos minutos apenas com gays, sem cortes e sem censura alguma. O filme retrata de maneira quase íntima o que todos os homossexuais passaram perante a sociedade onde uma doença não é importante quando compromete somente certa parte da população. Motivados pela religião e pelo próprio preconceito impregnado, a população assistiu à morte de homossexuais aos montes na década de 80, ambiente do drama.
A primeira impressão passada pelo filme é que o decorrer da estória será um imenso clichê, entretanto, nos 20 primeiros minutos, já é notável que não trata-se de romance ou de relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo, e sim da busca por liberdade e, acima de tudo, o direito de ser tratado como cidadão comum. O protagonista do filme, um escritor de trinta e poucos anos, luta incansavelmente contra o descaso do governo americano para com os gays, luta essa que só se intensifica após o início da manifestação da AIDS. O que chama atenção é o fato da trama não ser feita em bases irreais ou em um mundo perfeito, ela é inserida no cotidiano que poderia ser de qualquer pessoa, uma situação que leva o espectador a colocar-se no lugar de cada personagem que praticamente definha até a morte, sem qualquer resquício de preocupação ou cuidado por parte do governo vigente. Um filme um tanto quanto forte, recheado de cenas dramáticas que chamam atenção não só pela qualidade das atuações, mas também pelo cuidado ao tratar dos relacionamentos homoafetivos, tornando a visão das pessoas de fora sobre o tema muito mais humana, pois ao mesmo tempo que mostra que o amor não acontece somente entre pessoas de sexo diverso, mostra o quanto uma doença pode ser destrutiva quando é tratada com descaso e preconceito, sem contar o esclarecimento ao longo do filme de que a doença não se manifesta apenas entre os homens que se relacionam com os outros e sim que se manifestou em maior escala nestas pessoas.
Olhando tecnicamente para The Normal Heart, afirmo que o cuidado com os detalhes foram impecáveis. Cenário bem composto, excelente roteiro e uma trilha sonora que complementava cada situação proposta de maneira que, em certos muitos momentos (muitos), fosse quase impossível não se emocionar. Apesar de possuir protagonistas, a estória é de cada personagem que a compõe, desde a médica que descobre o início da doença (Julia Roberts), até o primeiro homem a morrer com sintomas da doença que era denominada “câncer gay”, isso sem contar que mesmo se passando há muitas décadas atrás, o filme trás a tona um tema que ate hoje é tabu: A AIDS e o preconceito que gira em torno dela. Infelizmente, com todo o conhecimento já adquirido, boa parte da população ainda se considera imune a uma doença que, comprovadamente, não se manifesta apenas em gays. Sendo assim, indico o filme muito mais aos que possuem algum tipo de preconceito em relação aos gays, não como afronta ou chacota, mas para que o tema seja conhecido mais a fundo e que exista a consciência do fato da opção sexual não mudar caráter nem direitos e muito menos dar lugar para agressões.