Em “Lírio Partido”, há uma curiosa antítese de Griffith. Quer dizer, há uma maneira de filmar totalmente em contraste do jeito grandioso e épico consagrado pelos seus filmes anteriores, os monumentais “O Nascimento de uma Nação” (1915) e “Intolerância” (1916). É sua obra menos conhecida e, paradoxalmente, a mais bem-acabada.
E a mais bela, também.
Singelo e tocante, o filme é quase um “teatro filmado”. Uma obra enxuta, econômica, contida, contando uma história com um quê de banal, envolta num cenário exuberante (ao retratar a pobreza de um vilarejo da zona portuária de Londres e o “colorido” dos motivos chineses).
A narrativa é simples. O amor proibido entre uma garota pobre (Lillian Gish – 1893-1993) e um missionário chinês desiludido (Richard Barthelmess – 1895-1963) é o tema dessa pequena obra-prima. Ainda que se faça ressalvas ao chinês fake de Barthelmess, “Lírio Partido” é um filme cuja força está no lirismo, na poesia, em um certo misticismo deste conto trágico de amor e de dor.
Vale destacar a engenhosidade da fotografia, obcecada em obter o mais perfeito enquadramento do rosto de Lillian Gish, a musa do cinema mudo. Em “Lírio Partido” ela está mais linda do que nunca.