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    O Que Traz Boas Novas
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    O Que Traz Boas Novas

    Aos alunos com carinho

    por Roberto Cunha

    O que dizer de uma produção ganhadora de 28 prêmios e ainda uma dezena de indicações, entre elas a de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar 2012? Quem pensa ser isso o bastante para fazer o crítico acreditar estar diante de uma obra incontestável, enganou-se. Até porque para o (pobre) autor desse texto, ser premiado, por mais incrível ou absurdo que possa parecer, nem sempre é garantia de que o resultado final é agradável para o espectador. Felizmente, O Que Traz Boas Novas faz jus ao título (e aos prêmios), tratando de assuntos sérios (dolorosos até) com uma rara e inteligível poesia.

    Após um triste e trágico episódio envolvendo o suicídio de uma professora em uma escola do Canadá, um imigrante argelino chamado Bachir Lazhar (Mohamed Fellag) se apresenta como substituto. Pressionada pelos recentes acontecimentos, a direção do estabelecimento o contrata, meio que ignorando a sua formação. Enquanto as crianças passam pelo luto, esse estranho tenta se firmar para conquistar seu lugar e assim fugir do passado que tanto o aflige. Durante esse processo, os conflitos vão surgindo na mesma medida em que alunos e professor novo (literalmente) vão se conhecendo, descobrindo a si mesmos e formando até laços inicialmente inimagináveis.

    Abordando assuntos sérios, essa comédia dramática escrita e dirigida por Philippe Falardeau, tem como alicerces o terrorismo, nas angústias de seu protagonista, e a questão da imigração, revelada numa sala de aula multinacional, cujos pequenos membros não se furtam de encarnar no sotaque do mentor. Além do já cimentado bullying, o roteiro mexe ainda numa massa mais densa e complicada: as regras nos estabelecimentos de ensino. Afinal, são elas que dificultam a relação aluno/professor e transformam, muitas vezes, meros aprendizes em senhores ou "material radioativo", como frisou um personagem ao lembrar que não se pode encostar neles.

    No elenco, além do próprio Fellag, vale registrar as interpretações seguras e emocionantes das crianças Émilien Néron, como Simon, e a Sophie Nélisse, como a fofíssima e sensível Alice, que sugere o delicioso "O Chamado da Natureza", de Jack London, para Bachir. Guardando as devidas proporções, esse longa flerta com o ótimo e recente A Caça, que também tem a escola como pano de fundo para discutir as relações humanas. A diferença é que meclando momentos de (pouca) tensão, humor e drama, uma ternura vai abrindo espaço em meio a tanta dor. Ou desabrochando, como a enigmática crisálida, citada pelo mestre aos pequeninos durante uma citação de Honoré de Balzac. Assim, O Que Traz Boas Novas pode não ser um título muito comercial no sentido mais amplo da expressão, mas sua capacidade de fazer o espectador voar alto é maior do que o fugaz voo de uma bela borboleta.

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