Amadorismo
por Francisco RussoFilmes sobre sequestros formam quase um gênero à parte no cinema. O contexto é sempre o mesmo: alguém, geralmente uma família, é aprisionado por bandidos e sofre os mais variados tipos de pressão para entregar algo valioso. Reféns, novo suspense dirigido por Joel Schumacher, não tenta inventar a roda e segue fielmente a cartilha. O problema é que ela está repleta de rasuras e páginas faltando, resultando em um filme repleto de situações pouco consistentes que beiram o amadorismo.
Afinal de contas, o que dizer de uma família que vive em uma mansão suntuosa, repleta de carros impressionantes, e que confia em um mero sistema de câmeras para garantir sua segurança? Tem mais: cujo dono abre o portão sem ao menos ver o rosto das pessoas, acreditando no que é dito sem a apresentação de qualquer documento? Convenhamos, os Miller pediram para ser assaltados. Por mais que morem em uma área tranquila, o desleixo com a própria segurança é um convite para que algo de errado aconteça com eles – e um tremendo facilitador para o roteirista, que não precisa se preocupar com uma história mais verossímil, e naturalmente complexa, para justificar a entrada dos sequestradores.
Do outro lado, há os bandidos. Ameaçadores, abusando do terrorismo psicológico que até prende de início pela inevitável tensão provocada. Só que logo se percebe que há algo de errado também entre eles. O nervosismo da ação justifica certos deslizes, como dizer o nome de um dos integrantes. Mas tirar o capuz, sem motivo algum? Forçar que frases de efeito sejam ditas, sem que gere algum tipo de consequência? E o que dizer da mulher que invade o quarto dos Miller e passa não só a experimentar os vestidos de Sarah, mas também “desfilar” com eles pela casa – com o rosto à mostra, é claro. São tantos os absurdos que os bandidos praticamente pedem que algo dê errado.
Diante de tanta incompetência de ambos os lados, é difícil torcer para um deles. Ainda mais quando a história é baseada em uma suposta tensão sexual e em segredos de todos os lados, revelados na intenção de surpreender o público. A surpresa até vem, mas de outra forma: na péssima qualidade do roteiro, com soluções clichês que tornam os personagens meras caricaturas rumo a um desfecho esperado.
De positivo, Reféns conta apenas com alguns bons momentos de Nicolas Cage, especialmente antes de abrir o cofre. Já Nicole Kidman, Cam Gigandet, Liana Liberato e elenco se limitam a gritar e espernear ao longo do filme. Muito ruim.