Elysium - palavra originada do latim Elysio e que significa “local de felicidade” – é o segundo longa-metragem do diretor sul-africano Neil Blomkamp e que, assim como o filme de estreia do diretor Distrito 9, é uma ficção científica com diversas críticas. A história é focada em Max da Costa (Matt Damon), um habitante da Terra que sofre um acidente nuclear e precisa ir para Elysium - espécie de satélite artificial do nosso planeta para onde parte da população abastada rumou buscando se distanciar dos diversos problemas encontrados no planeta azul – para se curar. Claro que é proibido que as pessoas da Terra visitem Elysium, assim Max o terá que fazer de forma ilegal. O enredo do filme é bastante simples e não demanda uma atenção profunda do espectador para que todos os detalhes sejam entendidos. O início do filme apresenta uma Terra distópica e mostra a vida de proletário dos personagens principais, o que acaba por trazer a simpatia de quem assiste para o lado destes. Elysium, lá em cima no céu onde todo paraíso que se preze deve estar, não é o lugar onde todos daqui de baixo querem viver, é o lugar onde querem se curar. Com sua medicina extremamente desenvolvida e direcionada, é capaz de livrar seus cidadãos de todos os males e prolongar suas vidas a níveis impressionantes.
Os personagens são bastante interessantes, mesmo sem apresentar uma profundidade psicológica. A escolha dos atores também foi muito bem feita, com o diretor optando por incluir diversas etnias e nacionalidades no elenco. Matt Damon já atingiu um patamar de respeito no meio hollywoodiano e está muito bem como protagonista do filme, com um carisma forte que torna impossível não fazer da sua presença um motivo para ir assistir o filme. Jodie Foster no papel da secretária Rhodes faz um trabalho básico, que definitivamente não lhe renderá outro Oscar. Porém a presença da atriz duas vezes premiada pela academia já é um ponto positivo para a divulgação do filme. A inserção de atores não norte-americanos – o que já é uma realidade nos filmes de Hollywood – é uma grata surpresa. Alice Braga tem uma atuação convincente, assim como Diego Luna,
apesar da breve participação deste
. Sharlto Copley – compatriota do diretor – faz um excelente vilão com trejeitos do leste europeu sem se tornar caricato ou forçado demais. Quem não o conhece ou não o reconhecer – ele está com um visual bem diferente de Murdock de Esquadrão Classe A, por exemplo – poderá pensar que ele realmente é russo ou de alguma região correlata. O maior destaque, porém, é Wagner Moura. Os brasileiros não tem mais nenhuma dúvida do talento e da capacidade deste fantástico ator. Elysium chega para mostrar ao mundo o porquê de tanto sucesso dele em seu país de origem. Com um papel de destaque logo em seu primeiro papel em um filme hollywoodiano, o ator dá conta do recado e
não apenas chega ao paraíso como também o conquista
. A voz caricata do personagem tirou bem o foco do sotaque do ator nte um excelente trabalho.
A fotografia também merece destaque, com destaque para as cenas onde é possível ver Elysium no céu, como parte integrante e normal do ambiente da mesma forma que o sol ou a lua. As cenas de ação agradam pela beleza dos efeitos de rotação e de câmera lenta – a cena
onde Max destrói o robô guarda-costas do presidente da multinacional é maravilhosa
. E as cenas de mutilação também impressionam –
que o diga o rosto de Kruger
– provando que a censura de 16 anos não foi exagerada.
Se por um lado o enredo é simples, por outro lado os diversos problemas abordados incitam reflexões mais profundas por parte de quem assiste. Diversas críticas são feitas de forma bem conectada. A crítica ambiental é apresentada com o "gastar tudo e quando acabar, deixar os restos para trás" – a melhor forma de resolver um problema é deixando ele para os outros. A crítica à tecnologia também se mostra forte, mostrando que a busca desenfreada pela praticidade e otimização está tornando tudo bastante impessoal –
a cena do boneco que é o agente de condicional de Max mostra bem isto
. Por outro lado, todas as tentativas de Spider e seus subordinados de burlar os sistemas de proteção de Elysium mostram como o ser humano é a máquina perfeita e que sempre será insubstituível. E a crítica mais contundente, em minha opinião, é ao sistema de saúde onde quem tem as melhores condições financeiras tem acesso aos melhores tratamentos e podem morar em Elysium. Algo que, por mais brutal e absurdo que aparente ser no filme, acontece na realidade com, por exemplo, empresas de remédios que pouco se importam com surtos de epidemia matando milhares de pessoas em detrimento de patentes e lucros. No fim todas essas críticas tem o poder de atiçar a cabeça do espectador que procura algo a mais após as quase 2 horas de filme. Não seria a criminalidade fruto do meio mal administrado e renegado? Se você tivesse a oportunidade de ir para Elysium com sua família e deixar toda uma população para trás em um planeta esgotado e destruído, você o faria? Será que você já não vive em um Elysium particular, trancado físico e psicologicamente, ignorando tudo e todos ao seu redor? E quando você quer que um criminoso morra para pagar pelos seus crimes, você não está se igualando a ele?
Elysium pode ser um filme de ficção científica pouco original, sem muitas reviravoltas e que foca suas críticas em problemas gerais demais e já discutidos diversas vezes antes em outros longas. Porém sempre é interessante presenciar algo que te mostre uma realidade triste, dura – por mais ficcional que seja – e te tire da sua zona de conforto. Que te faça pensar um pouco na sua relação com os outros e com o lugar onde você vive. E apesar do sucesso nas bilheterias do Brasil muito provavelmente ter sido ocasionado pela presença forte de Wagner Moura no elenco, o filme tem potencial para render muito dinheiro em todo o mundo e alavancar ainda mais a carreira do diretor Neil Blomkamp.