O melhor do filme é a ácida e contundente crítica a uma sociedade amplamente desigual, onde quem não tem dinheiro (e prioritariamente fala inglês e espanhol), vive em favelas sob condições desumanas, doente, sem perspectivas e esperanças. Por outro lado, os abastados, vão para Elysium, uma estação espacial livre da poluição, onde as pessoas têm direito a tudo de melhor (falando inglês, mas também francês e alemão), livres das pragas dos cidadãos miseráveis. A ideia é simplesmente excelente e denota uma forte manifestação política do diretor sul-africano Neil Blomkamp, do ótimo e bem sucedido Distrito 9, que mostra com mão pesada as gritantes mazelas dos “bandidos”, “favelados”, “latinos” e a perfeição utópica dos “brancos”, “bonitos” e “afortunados”, que parecem desconhecer o outro lado da moeda, ou simplesmente demonstrando seu mau-caratismo. O filme peca um pouco pelo roteiro com vários clichês batidos e que poderiam ser amenizados, tais como a do heroi predestinado que sucumbe àquilo que seria o certo a se fazer, até os vilões que querem o poder de controlar a todo custo. O final busca uma saída fácil e simplória para um tema que poderia ser muito melhor aproveitado. A forma como os personagens de Matt Damon, Jodie Foster e Sharlto Copley terminam, causa um ar de estranheza, apesar de politicamente correta, mas tais personagens poderiam ter desfechos bem mais obscuros. E o elenco irregular é outro ponto negativo do filme. Com exceção de Matt Damon, Alice Braga e Diego Luna, que são os poucos a mostrar carisma e realmente alguma profundidade em suas atuações, temos o exagero cênico de Sharlto Copley (bem melhor em Distrito 9 que nesse filme), Jodie Foster (nunca a vi tão exagerada e deslocada) e Wagner Moura (que só consegue ser irritante e superficial). Eu sou grande admirador do trabalho de Wagner Moura e Jodie Foster, mas nesse filme, os dois me decepcionaram retumbantemente. No mais, o filme não se prende a efeitos especiais que chamam mais a atenção que sua própria história, nem seguiu a “mania” do 3-D, o que já é extremamente válido para um filme com tamanho orçamento. Um filme que prende a atenção e faz refletir, embora com potencial de ser bem mais contundente e não meramente contemplativo como é na verdade. Ainda assim, mesmo com tantas falhas, Elysium mostra que mesmo com alguns erros de execução, ainda há vida inteligente na indústria de cinema em massa.