Nada a declarar
por Bruno CarmeloAntes de assistir a esta produção nos cinemas, saiba que você tem mais chances de gostar de 18 Comidas se tiver carinho por frases do tipo: "O caminho para o coração passa pelo estômago", "O amor é o mel da vida" ou "A vida está servida" (slogan estampado nos cartazes). Também ajuda se você sorrir diante de criancinhas que compõem "receitinhas de felicidade", com "uma pitada de amor, duas colheradas de emoção" etc. etc. O filme transborda destes misticismos culinários extraídos dos botecos do mundo.
Assim, uma introdução genérica nos avisa que muitas refeições são servidas na Espanha, e que a comida é fundamental na vida de uma sociedade (jura?). Segue uma ciranda de personagens, com seis histórias que se desenvolvem entre café da manhã, almoço e jantar. A comida aparece como pano de fundo para os amores, mas ela nunca é o objeto real de nenhuma dessas histórias – que também poderia se chamar "18 músicas", visto a quantidade de cantores e artistas em cada esquete.
Como o humor do filme nasce ou da repetição (um homem prepara várias refeições para uma mulher que nunca chega), ou da gradação (a tensão entre dois irmãos aumenta a cada minuto), não é de se espantar que a história tenha poucas reviravoltas. Muitos segmentos não levam a lugar nenhum, não desenvolvem seus personagens, contentando-se dos risos desconfortáveis obrigatórios do subgênero "dramédia independente".
Algumas histórias são mais concisas - a crise entre os irmãos -, já outras se esticam sem fim - o flerte entre os dois amigos -, mas fica a impressão de que, por trás de sua aparência cool e despojada, com músicos de rua e mendigos filósofos, 18 Comidas tem muito pouco a dizer, que seja sobre a comida, sobre os amores, sobre a sociedade ou mesmo sobre o cinema. Através do imperativo do mosaico, o filme prefere o superficial (mostrar um pouco sobre a vida de muitas pessoas) ao profundo (mostrar muito sobre a vida de poucas pessoas). Assim, estes personagens são pessoas quaisquer, e suas histórias não têm grande singularidade. Trocá-las por outras não faria diferença nenhuma para este projeto que se apoia justamente na aleatoriedade de suas tramas.
Ironicamente, 18 Comidas faz um grande esforço para se encaixar nos moldes do cinema leve, com sorrisos fáceis e reflexões prontas sobre o amor. Este filme está para o cinema como o provérbio está para a cultura popular: ele é uma simplificação, uma banalização que tenta apreender todo o senso comum, mas acaba dizendo muito pouco além de reflexões vagas como "A vida está servida".