Acho razoável dizer que os filmes de ação sempre estarão em alta. Além de ser um investimento financeiramente bastante rentável, alguns filmes são capazes de agradar não só o público como a crítica, ao se consagrarem na cultura pop, com seus personagens icônicos e sua fórmula que - se não é a mais plausível, consegue ser uma das mais empolgantes - entre todas da Sétima Arte. Elaboradas perseguições de carro, anti-heróis que contestam o sistema, tramas de política, vingança e redenção, tendem a encher os olhos dos espectadores que buscam aquela “injeção de adrenalina” e explosões frenéticas.
O início dos anos 70 trouxe os primeiros grandes ícones dos filmes de ação, como Clint Eastwood, que deixou de ser o “cowboy sem nome” para se transformar no policial Harry Callahan em Perseguidor Implacável (Dirty Harry, 1971); na mesma época, Steve McQueen foi o detetive Frank Bullit em Bullit (1968) e Charles Bronson vai de arquiteto a justiceiro em Desejo de Matar (1974). Mas ao final da década, o mundo já havia mudado novamente. No Cinema, os quadrinhos e super-heróis voltaram com força, como em Guerra nas Estrelas (1977) e Super-Homem (1978).
Os anos 80 também ficaram marcados pelos filmes de ação, mas desta vez com heróis mais musculosos e “brutos”, como Sylvester Stallone em Rambo (1982), Arnold Schwarzenegger em Comando Para Matar (1985), Mel Gibson em Máquina Mortífera (1987) e Bruce Willis em Duro de Matar (1988). Paralelo a isso, a franquia “Bond” voltava com mais violência na pele de Timothy Dalton, sem esquecer a consagração de uma das maiores heroínas que o cinema já viu, Sigourney Weaver como Ellen Ripley em Aliens, o Resgate (1986). Em 1985, surgia uma série policial chamada The Equalizer, onde Robert McCall (Edward Woodward), um ex-agente da Inteligência norte-americana, se torna um detetive particular que ajuda a proteger vários clientes que sofrem com ameaças.
Dos anos 90 até hoje, os velhos ícones permaneceram como referência, mas surgiram outros nome de peso que podemos destacar, dentre eles Tom Cruise como Ethan Hunt (franquia Missão Impossível), Matt Damon e seu Jason Bourne (Trilogia Bourne), Jason Statham como Chev Chelios (Adrenalina, 2006) e Liam Neeson como Bryan Mills (Busca Implacável, 2007). Mas, em 2001, um ator mais habituado a filmes de drama receberia um papel pelo qual seria sempre lembrado, impressionando inclusive a Academia. Em Dia de Treinamento, do diretor Antoine Fuqua, o ator Denzel Washington interpretou o detetive corrupto Alonzo Harris, e levou o Oscar de Melhor Ator naquele ano. Desde então, aos poucos Denzel foi se especializando como ícone dos filmes de ação, em filmes como Por um Triz (2003), o emblemático Chamas da Vingança (2004) e Déjà Vu (2006).
Mais de uma década após trabalhar com Fuqua (que nunca mais repetiu o excelente trabalho de Dia de Treinamento), os dois se reúnem para adaptar a série dos anos 80, The Equalizer, para o cinema, com o título nacional de O Protetor. Embora tudo indique que este filme é apenas o início de uma nova franquia (o segundo filme já tem planos para ser produzido) e com uma nova concepção, a premissa é basicamente a mesma do seriado: um homem com um passado misterioso que decidiu recomeçar sua vida de forma pacata, mas por não se conformar com algumas injustiças sociais, ajuda e protege os necessitados e com isso acaba se envolvendo em grandes problemas.
O Protetor é um filme que busca se diferenciar da ação frenética de costume, a qual geralmente proporciona câmeras trêmulas e perseguições alucinantes, mas sua própria estrutura impede o filme de ser “inovador” por ser previsível e formulaica. A princípio, parecia um encontro de Taxi Driver com Busca Implacável e com uma pitada de Drive. Mas ao desenrolar da trama, algumas familiaridades vão ficando claras e repetitivas. Como se não bastasse a sinopse entregar certa previsibilidade para a trama, o filme se inicia com uma frase de Mark Twain: “Os dois dias mais importantes da sua vida são: O dia em que você nasceu, e o dia em que você descobre o porquê”, indicando mais uma história de redenção pela frente. Então somos apresentados a Robert McCall (Denzel), percebemos ser um homem misterioso pela meticulosidade de seu dia-a-dia, todo ele cronometrado e ponderado. Típico senhor sábio e “gente boa”, Robert faz questão de ajudar a quem precisa, cultiva uma vida saudável e bom hábitos, como a leitura. Não consegue dormir, portanto caminha todas as madrugadas a uma cafeteria, onde pode ler seus livros e tem casuais conversas com uma jovem prostituta, chamada Teri (Chloe Grace Moretz, eficiente, porém pouquíssimo explorada).
Fuqua, contando com o raso roteiro de Richard Wenk (16 Quadras), mantém o ritmo lento durante todo o filme, talvez por opção pessoal, ou pelas condições físicas do protagonista que - apesar da ótima aparência – já não é nenhum garoto, completará 60 anos em dezembro. O fato é que ao prolongar tanto a duração do longa (o filme tem mais de 2 horas) apoiado em uma história bastante trivial, há momentos em que a história não flui e ficamos aguardando impacientemente pelas cenas de ação. Utilizando alguns closes estratégicos e cortes rápidos, o diretor consegue transpor a agonia e perturbação do personagem com eficiência, auxiliado, é claro, por mais um sólido trabalho de Denzel. A fotografia de Mauro Fiore (Avatar) se destaca, obscura e sombria, ajudando a proporcionar um maior clima de tensão.
Os vilões de O Protetor são inoperantes, peças meramente descartáveis para a narrativa. O antagonista Teddy (Marton Csokas) é o único que realmente oferece ao espectador alguma incerteza e perigo, por conta de sua crueldade e violência. Mas estamos em um filme todo de Denzel Washington e quem assistiu Chamas da Vingança sabe do que eu estou falando: quando decide fazer justiça com as próprias mãos, ele é letal e impiedoso. E se você tem tais habilidades, trabalhando em uma distribuidora de ferramentas e materiais de construção, imagine o que se pode fazer... Fuqua não economiza no sangue virtual e requintes de crueldade, contabilizando várias mortes sem piedade. A utilização do slow motion e da trilha sonora oportuna, embora totalmente clichés, são empolgantes e, provavelmente, o melhor que o filme tem a proporcionar.
Concluindo, O Protetor peca um pouco pelo excesso. Não é um filme espetacular. Não é um filme que irá resgatar a nostalgia da série, para os fãs que imaginam isso. Se trata de uma nova franquia que tem potencial para melhorar a cada novo episódio. Em tempos de “Os Mercenários 3”, “Busca Implacável 3” e “Missão Impossível 5”, me pareceu um recado de Denzel Washington aos “dinossauros” dos filmes de ação: eu ainda estou aqui! E se mantiver a energia empregada neste projeto, com o auxílio de melhores roteiristas e (por que não?) melhores diretores, ainda pode surpreender bastante. Uma coisa é certa: os velhos e novos fãs dos filmes deste gênero sempre estarão lá, para conferir e apoiar seus heróis até o fim.