Viva la revolucion!
por Lucas SalgadoAo se pensar no cinema realizado em Cuba, é mais fácil se lembrar de produções marcantes nos anos 60 e 70, como Memórias do Subdesenvolvimento e Lucia, do que em longas recentes. As dificuldades econômicas enfrentadas pelo país reduziram drasticamente as produções realizadas por lá, que ainda assim possui uma conceituada faculdade de cinema. São poucos os filmes produzidos em Cuba e menores ainda os que chegam ao Brasil. Ainda assim, em 2011, foi realizado um filme em ganhou destaque em festivais por todo mundo, incluindo o Festival do Rio. Trata-se de Juan dos Mortos.
Cerca de dois anos depois, o longa chega aos cinemas brasileiros e merece ser conferido pelos fãs de filmes de zumbi. A coprodução Cuba-Espanha gira em torno de um grupo de estranhos amigos que têm que lidar com o fato de todos a sua volta terem se tornado zumbis, embora a mídia ainda os trate como dissidentes financiados pelo governo dos Estados Unidos.
A ideia é ótima e a execução não deixa a peteca cair. Juan é o líder do grupo, que ainda arruma uma forma de ganhar dinheiro diante da tragédia. "Matamos seus entes queridos", anunciam.
Como muitas grandes comédias, o Juan de los Muertos (no original) investe no absurdo para produzir críticas não só contra o sistema de governo do país, mas também contra os Estados Unidos e o cinema hollywoodiano. Não é coincidência que o primeiro zumbi visto no filme seja um prisioneiro de Guantánamo e nem que um cowboy (ou quase isso) surja em cena para morrer da forma mais idiota possível.
Escrito e dirigido pelo argentino Alejandro Brugués, o filme valoriza o caráter de sobrevivente do povo cubano, que supera muitas dificuldades. Tem referências claras a Todo Mundo Quase Morto, usando armas estilizadas como remos, tchaco e taco de basebol como instrumentos para matar zumbis. Mas não se trata de um longa que se esgota na referência, brincando ainda com filmes de vampiro e com O Exterminador do Futuro ("Venha comigo se quiser viver").
O filme não se julga esperto de mais e nem perde tempo em debates políticos, mas não deixa de dar suas indiretas, algumas delas bem óbvias, por sinal. As ruas de Havana viram cenário de filme de horror, com muito sangue e corpos pelo chão. Tal ambiente contrasta com painéis e pinturas que destacam frases como "pátria ou morte", "revolução e morte" e "Havana livre". Brinca com os russos, através de crítica aos carros Ladas, e com os americanos, com o protagonista dizendo que só vai para Miami se não tiver mais jeito. Para ele, só algo pior que uma revolução zumbi justificaria entrar num bote para a América.
Estrelado por Alexis Díaz de Villegas, Jorge Molina, Andrea Duro e Andros Perugorría, Juan dos Mortos é inteligente, divertido e muito bem feito. É claro que possui um visual trash e cenas pra lá de bizarras, mas tudo bem inserido em produções do gênero. No final, é difícil tirar o sorriso do rosto, reforçado por uma versão roqueira de "My Way", clássico da música imortalizado por Frank Sinatra.