Contrariando a pouca criatividade do título do filme no brasil (“Conquistas Perigosas”), “Charlie Countryman” (2013), surpreende com uma narrativa progressivamente emocionante, que capta a atenção do espectador, submentendo-o ao desconforto na apatia de sua poltrona pela espectativa no desdobramento de sua história. Isso por que o filme de Fredrik Bond nao apenas conta com grandes atuações, em destaque à já previsível desenvoltura de Shia Labeouf, colocando em dúvida o que é real e o que é encenação, como também com uma direção impecável de Bond, desvelando o subjetivo das imagens.
A trama trás a história de Charlie, um jovem que após a morte de sua mãe, decide se mudar para Budareste, uma cidade remota do leste Europeu. Mas os indícios ocasionais e espirituais acabam levando-o a conhecer Gabi, uma mulher misteriosa que coloca Charlie tão perto do amor quanto da morte.
O enredo pouco inovador desafia-nos a imergir em um universo onde as imagens conseguem expressar o que os seus personagens, omissos, reprimem em seus conflitos: indicações propostas nas experiências espirituais e alucinógenas, nos efeitos da tristeza, do desamparo, da droga. São ângulos inconvenientes à individualidade de cada atuante em cena, invasivos às formas canônicas das coisas. Vemos mais do ponto de vista daquele que enxerga espíritos, quando somos consumidos pelos “close-up” da surpresa expressiva de seu rosto; ficamos mais intrigados por aquele que usa drogras na denúncia de uma “câmera subjetiva”, excandalizando as alucinações do impossível, chocante, fantasioso. Mas somos convencidos mesmo no “primeiríssimo plano” do olhar daquela mulher que conduz Charlie para uma paixão, quase que infantil em seu altruísmo.
Dessa forma somos conduzidos como crianças para esse universo lúdico e perigoso do amor impossível, como muitos romances, nostalgicamente, ja nos fizeram lembrar. E atrelado à uma trilha sonora impecável, o sincretismo de som-imagem consegue concluir seu objetivos: ficamos presos à sinestesia de sentimentos sugeridos pela obra: nem vemos nem ouvimos, apenas sentimos ao mesmo tempo todo o turbilhão de emoções descritas na tela. Entretanto a conclusão de sua maestria fílmica não nos trás grandes surpresas, a não ser pela imprevisibilidade de seus personagens em cena, desafiadores em nome da honra, em nome do amor. O roteiro também não favorece a montagem em alguns momentos, não condizente com a sugestiva direção, quando escapa à continuidade, e propõe diálogos pouco convincentes. No entanto, o filme se torna uma boa escolha, de uma forma geral, no deslocamento do espectador ao universo imaginário de Charlie, cobiçado pelos efeitos do amor, da droga, do luto, ao persuadir o seu observador a aderir às mesmas experiências que, como a de um voyeur, são incentivadas pelo prazer da identificação, no anonimato.