E o sacrifício dos 300 guerreiros espartanos comandados por seu rei Leônidas foi ouvido como um brado pelos quatro cantos da Grécia, fazendo com que cada Cidade-Estado se levantasse contra as hordas incontáveis de Xerxes, o deus-rei da Pérsia. Toda a Grécia se lançou à batalha contra seus terríveis opressores, e mesmo que a combalida Esparta levasse mais tempo para regressar ao campo de batalha, ela também passou a entoar o coro da vitória suprema, sempre proferido por seus guerreiros, os melhores de todos.
Após a derrota dos guerreiros espartanos nos chamados “Portões Quentes” ou Termópilas, o rei persa Xerxes comemora sua vitória incontestável e planeja avançar com seus exércitos por toda a Grécia, a começar pela Cidade-Estado de Atenas. Pelo prelúdio do filme, narrado pela rainha espartana Gorgo (Lena Headey), Atenas e seu general Temístocles (Sullivan Stapleton) são os grandes responsáveis pela investida de Xerxes, já que dez anos antes, as tropas persas comandadas pelo rei Dario foram vencidas pelos exércitos atenienses na batalha de Maratona, outro importante combate histórico.
É justamente nesse princípio que vemos um Xerxes humano e jovem, interpretado pelo próprio Rodrigo Santoro, que após a morte do pai, jura vingança contra todos os gregos. Para que a Pérsia vencesse era preciso um verdadeiro deus comandando o maior exército do mundo. É neste momento que conhecemos o plano da melhor guerreira persa, grega de nascimento, Artemísia, vivida por uma sedutora e mortal Eva Green: transformar o novo rei num verdadeiro deus por meio de rituais místicos.
O personagem surreal e inumano que conhecemos no primeiro filme tem uma origem apresentada e até certo ponto, pertinente com a imagem que passa na tela. É sabido que este filme é baseado na história criada por Frank Miller, que contava as origens do personagem, mas que não foi concluída pelo autor, devido aos seus conhecidos atrasos para entrega. Independente se a base está nos quadrinhos ou no roteiro escrito para o longa, Xerxes é mostrado como um ser desprovido de humanidade em todos os sentidos e movido pela sede de sangue e vingança. E um detalhe: se Christopher Nolan e David Goyer deram um novo entendimento ao “Poço de Lázarus” em “Batman – O Cavaleiro das Trevas ressurge”, neste filme, a ideia original dos quadrinhos parece ter encontrado a sua melhor representação. Quem conhece o conceito original, entenderá quando assistir ao nascimento do deus-rei.
O novo filme é bem menos impactante que o original, já que não tem a mão do diretor Zack Snyder e todo o seu estilo único, principalmente, em relação às sequências de batalha e o uso de câmeras lentas. O diretor Noam Murro, fazendo jus ao nome, comanda boas cenas de combate e usa dos artifícios de Snyder, mas tudo soa como um “mais do mesmo” sem originalidade e catarse. Parece um jogo de ação como tantos hoje em dia, que se aproveitam de uma técnica desenvolvida por alguém.
O herói não tem a mesma emoção de Leônidas, nem seus guerreiros o mesmo empenho na tela, mas não comprometem, já que são jogados ao campo de batalha, pelas suas próprias razões: defender suas famílias e sua pátria. Nisso, os atenienses e os demais gregos são superiores aos espartanos, que ficam cegos pelo desejo único da “morte honrada” contra seus inimigos. O poder militar e político de Temístocles é fundamental para comandar seus guerreiros e trazer mais e mais para sua causa, criando um conflito interno com Esparta, pelas diferenças ideológicas entre os dois poderes e seus líderes.
Se por um lado, o filme carece de um protagonista carismático, temos como destaque a sempre envolvente Eva Green e sua Artemísia, cheia de ódio e rancor devido ao traumático passado pelo qual teve que se submeter. A personagem toma conta da tela a cada aparição, deixando todo o restante, mesmo as grandiloquentes cenas de combate em segundo plano. De fato, a atriz possui essa característica de seduzir e dominar o público, principalmente com seu olhar (e outros atributos, como mostra a cena em que os dois adversários se encontram pela primeira vez).
Em relação ao brasileiro Santoro, mais uma vez seu personagem não é tão explorado em cena, resultando em algumas aparições esporádicas ao longo do filme, sempre ao lado da bela Eva. Não há um confronto com o herói grego, mas os rumos que a história seguem dão a entender que essa pode não ser a última vez que veremos no cinema o personagem.
O destino dos heróis gregos também é sugerido, a fim que de uniões até então improváveis venham a acontecer e a tão sonhada e almejada vitória seja finalmente alcançada. Os ventos de continuações já começam a soprar, ainda mais porque as bilheterias da produção estão alcançando bons valores ao redor do mundo.
Nenhuma sequência, nenhum prequel, mas sim uma continuidade para uma história cheia de sangue e coragem, contada sob outro ponto de vista e vivida em outro lugar. “300 – A ascensão do império”, mesmo não tendo um storyboard como o do primeiro filme (me refiro aos quadrinhos de Miller), tenta emular o que há de melhor no filme de 2006, mas trazendo elementos novos para o desenvolvimento de novas histórias ambientadas na longeva guerra entre os persas sedentos em ampliar seu império e os gregos, ávidos pela liberdade, justiça e união entre todos os seus povos na mesma ideia, a democracia.
Não queira algo puramente original, mas não precisa temer uma decepção. O filme entretém e diverte, mesmo com os litros (muitos mais que no primeiro filme) de sangue digital, algo que nem sempre consegue ser alcançado nas atuais produções do gênero de hoje em dia. E nunca é demais ver Eva Green na tela, mesmo que ela tenha duas lâminas afiadas apontadas para o seu pescoço.
Nota: 4 de 5.