Diz um dito popular que a primeira impressão é a que fica. Infelizmente, no mundo do cinema, a premissa se inverte: a última impressão é a que fica. Ao sairmos do cinema, ou encerrarmos uma sessão doméstica, o final sempre assume uma importância desproporcional a tudo que veio antes dele. Por isso muitos diretores conquistam as plateias com finais "surpresa", mesmo que a história que os precede não seja lá essas coisas.
O diretor canadense Dennis Villeneuve havia conseguido com seu filme anterior o Olimpo da narrativa cinematográfica. Seu Incêndios , cujo roteiro foi tão bem trabalhado que escondia totalmente que sua origem é uma peça de teatro, tinha uma ótima história, que nos prendia até o final, um dos mais chocantes e inesperados dos últimos tempos.
Por isso, a expectativa era enorme em relação à primeira incursão do diretor no cinema americano. Desta vez ele contaria com uma história originalmente escrita para o cinema e com a presença da nata dos intérpretes em língua inglesa. Além dos astros Jackman e Gyllenhall nos papéis principais, Os Suspeitos tem no elenco o jovem talento Paul Dano (Sangue Negro, Pequena Miss Sunshine), e os experientes Viola Davis (Histórias Cruzadas, Dúvida), Melissa Leo (O Vencedor, Rio Congelado), Maria Bello (Uma História de Violência, Obrigado por Fumar) e Terrence Howard (Iron Man, Hustle & Flow - Ritmo de um Sonho).
Com relação ao elenco, parece não sobrar muito espaço aos que circundam Jackson, como se o filme fosse dele, com exceção de Paul Dano, que embora apareça pouco dá mais um show de interpretação. Quanto à parte técnica, Os Suspeitos se destaca com mais um excelente trabalho de iluminação do veterano Deakins, que optou por limitar a paleta de cores do filme a tons sóbrios, priorizando os contrastes do claro-escuro. As cores num tom bem monocromático parecem acentuar que a ausência das filhas deixou a vida dos familiares sem cor.
O Villeneuve de Os Suspeitos não lembra em nada o diretor de Incêndios. Nem na temática, nem na abordagem, nem na técnica. O que diferencia Os Suspeitos e o coloca acima de outros que já abordaram assunto semelhante é o foco no comportamento dos pais quando acreditam haver encontrado o responsável pelo desaparecimento de suas filhas. Não se trata apenas de fazer justiça com as próprias mãos, mas incorporar na alma e nas atitudes tudo o que o chamado "homem de bem" condena naqueles rotulados de criminosos. Mas, neste ponto, a densidade dramática e o flerte da história com o lado obscuro de todos nós se dilui, enveredando por uma série de falsas pistas, que rebaixam o filme a um nível comum dos inúmeros thrillers. Pior que isso, o final não une as diversas pontas, deixando coisas mal resolvidas, mal respondidas e mal entendidas. O excelente nivel técnico e narrativo de 2/3 do filme se perde totalmente no terço final.
Os Suspeitos no final das contas lembra a história de um rapaz que namora anos a mesma menina, enchendo-a de promessas, até o dia em que resolve marcar o casamento. Só que no dia da tão aguardada cerimônia, acaba deixando-a sozinha no altar, fugindo com outra, que para surpresa dela, nem é mais bonita. Talvez a menina guarde para sempre excelentes recordações do tempo de namoro, mas talvez, por outro lado, só vá lembrar da frustração do dia do casamento.