Me arrisco a dizer que este é um dos melhores filmes do século XXI até aqui, sem exageros. Se fosse dirigido por um desses diretores popstar como Nolan ou J.J. Abrams e tivesse tido uma melhor campanha de marketing tenho certeza de que Os Suspeitos seria um filme celebrado por todos e multipremiado.
Chega a ser difícil escolher por onde começar uma avaliação, mas vamos tentar. A fotografia é incrível, a chuva, a neve, o clima frio é usado de forma excelente pra ressaltar o suspense da trama. E que suspense! Chega a ser pesado, como tentar andar na lama. A história joga com o emocional do espectador, nos dando pistas que parecem mostrar o caminho mas que logo em seguida nos levam pra um novo beco sem saída. Não é a toa que a temática do labirinto é a base da história. E isso faz com que possamos sentir o que os personagens sentem, o desespero e a dúvida na fé em Deus.
O roteiro é perfeito, com uma temática sempre atual, o dilema ético de um pai desesperado pra ter sua filha sequestrada de volta. Pra isso ele infringe a lei, tortura um suspeito e engana a polícia. Porém o tal suspeito é irredutível, não confessa o crime de forma nenhuma, mesmo depois de torturas dolorosas. E o diretor não poupa ninguém de mostrar cenas fortes, como o rosto desfigurado do rapaz depois de uma surra.
À princípio temos certeza que o tal suspeito é de fato o criminoso, o que nos faz simpatizar com o personagem principal e tolerar suas decisões controversas. Mas com o tempo esta certeza cai por terra, e somos postos em outro dilema: E agora, deixar um inocente vivo e arcar com a pena por seus erros, ou por um fim de vez na história sumindo com ele? É difícil, pois até este ponto já estamos nos sentindo cúmplices de Dover (Jackman) e a culpa nos acerta em cheio. Então, num ato de egoísmo e egocentrismo puro passamos a torcer, mesmo sem provas, que o suspeito seja culpado de algo, pois isso "justificaria" tudo que foi feito. É tenso.
A trama é muito inteligente, das mais rebuscadas e intrincadas que eu já vi. É difícil acompanhar todas as subtramas e peças aparentemente desconexas, mas no final se o espectador for sagaz e atento o suficiente verá que tudo se encaixa perfeitamente, de uma forma soberba, perfeita.
O elenco não poderia ser melhor. Jackman e Gyllenhall dão as melhores performances de suas vidas, é de partir o coração cada vez q a câmera pára sobre o rosto de Hugh, a cada cena mais cansado, bufando e à beira do colapso. Enquanto Jake adquiri tiques pra demonstrar seu estresse. Destaque também para Viola Davis, que aparece pouco, mas encarna uma mãe paralisada pelo medo com perfeição. E Paul Dano que mesmo com um personagem pouco expressivo consegue brilhar, seja com um olhar rápido ou pela postura corporal.
Algumas decisões dos personagens, principalmente do policial, parecem imbecis, mas devem ser compreendidas como atos de homens desesperados e confusos emocionalmente.
Por fim, o final é polêmico como não poderia deixar de ser, afinal a polêmica está instaurada desde a primeira cena do filme. Alguns dirão que é um final decepcionante, mas eu achei genial. Por não ser explícita a conclusão propositalmente deixa o espectador imaginar o destino do personagem de Jackman, e isto de certa forma refletirá os valores morais de cada espectador. O policial irá prende-lo? Ou poderia deixá-lo fugir? Ele merece morrer depois de tudo o que fez? Ou merece um final feliz? Cada um pode escolher o que aconteceu depois que os créditos sobem.
Dennis Villeneuve um dos maiores diretores da atualidade, e esta é sua obra-prima até aqui. Seus filmes não são fáceis, mas extremamente profundos e belos. Este filme poderia ser assinado por Kubrick ou Kurosawa tamanha sua complexidade.