A tradução “Os Suspeitos”, para o filme dirigido por Denis Villeneuve, é muito inadequada. Neste sentido, o título original “Prisoners” é perfeito para retratar o que ocorre no longa, uma vez que o roteiro escrito por Aaron Guzikowski retrata uma situação cuja consequência é colocar os personagens da obra em uma espécie de prisão, pois tudo que gira em torno desse evento é uma sombra que vai pairar pela vida deles até que tudo seja solucionado – ou, talvez, nem mesmo após a solução, eles se livrem das marcas deste acontecimento.
No Dia de Ação de Graças, Anna Dover (Erin Gerasimovich) e Joy Birch (Kyla Drew Simmons) desaparecem misteriosamente na rua em que moram para desespero de seus pais – Keller Dover (Hugh Jackman) e Grace Dover (Maria Bello) e Franklin Birch (Terrence Howard) e Nancy Birch (Viola Davis), respectivamente. O detetive Loki (Jake Gyllenhaal) é designado para o caso e, apesar das primeiras pistas indicarem que o jovem Alex Jones (Paul Dano) está por trás do fato, na realidade, a polícia não tem nenhuma prova concreta que o liga ao desaparecimento.
A partir do momento em que Alex Jones é posto em liberdade, “Os Suspeitos” deixa de ser um drama quase didático sobre uma investigação policial e passa a ser um suspense psicológico que aborda diferentes facetas de uma situação deste tipo. Em especial, neste caso, é bom ficar atento a dois personagens, que representam o grande contraste entre as duas linhas de narração do filme: a que envolve o detetive Loki, que incorpora a frieza e o calculismo que são necessários para tentar enxergar todas as variáveis que estão ligadas a um desaparecimento deste tipo; e a que envolve a reação extremada e emocionada do pai Keller Dover, que, por não aceitar a lentidão da polícia para a resolução do caso, decide fazer uma investigação própria sobre o sumiço da filha, que o leva a caminhos bastante tortuosos e cuja moralidade podemos questionar a todo momento.
Parece uma trama baseada num livro de Dennis Lehane, mas não é. “Os Suspeitos” é um filme que tem uma duração atípica para um longa de suspense policial (146 minutos), mas, em nenhum momento, a obra perde seu ritmo. Pelo contrário: a trama se mantém tensa do início ao fim, com muitas informações novas sendo jogadas para o espectador a todo momento. Apesar de alguns furos do roteiro, o trabalho de Aaron Guzikowski já merece o mérito por captar a atenção completa da plateia, que fica intrigada com os acontecimentos retratados no filme e vai junto de Loki e Keller Dover nos caminhos que eles escolhem seguir. E, aqui, vale destacar o trabalho excelente de atuação de Jake Gyllenhall e Hugh Jackman, apoiados por um excelente elenco de apoio.