Admiro essa trajetória que a Julie Delpy está traçando como diretora, seus filmes, sempre feel good movies, adoráveis, que apesar de um erro aqui e outro ali, são sempre uma delicia de assistir. Aqui, pra mim, ela fez o melhor de seus quatro longas até o presente momento.
Curiosamente feito antes de 2 dias em Nova York, mas lançado aqui no Brasil depois (risos), o filme conta a história de uma família que se reúne num final de semana de 1979 para comemorar o aniversário da avó, uma matriarca bem simpática que tem momentos muito bons no filme. No meio de tudo isso, Julie Delpy justifica o título do filme de uma forma um tanto quanto desajeitada, mas divertida: o medo de sua personagem e da filha de que o satélite Skylab viesse a cair próximo de onde está a casa.
O interessante aqui é que o filme não segue uma cartilha, e o roteiro não é daqueles com muitos conflitos e reviravoltas. É um simples final de semana em família, em que cada um age da forma com que tem que agir. E nisso há muita risada e alguns momentos de briga, choro, discussão política, de modo que muito facilmente o espectador se identificará com as situações que estão sendo mostradas, uma vez que o filme, por mais incrível que pareça, é bem atemporal. Há um problema com uma certa questão de 'timing', quando o filme resolve atingir uma veia um pouco mais dramática com um dos plots, bem perto do final, o que pode gerar, e gera mesmo, humor involuntário em plateias acostumadas com todo o clima presente no filme até então.
E são tantos personagens, é uma família tão grande, que fica difícil decorar o nome de qualquer um ali, porém, o mais legal é que mesmo com essa barreira, todos são minimamente carismáticos e a empatia logo acontece. O roteiro da própria Delpy acerta em oferecer um ambiente muito propício para que tudo aquilo aconteça e é realmente muito legal que cada personagem seja parte integrante e fundamental do todo.
Por mais que os adultos tenham ótimas cenas, quem rouba o filme mesmo é o elenco infantil. Delpy usa seu filme, por meio de uma ótica muito, mas muito singela mesmo, pra mostrar o tipo de educação que cada criança ali recebe. E, ainda que não critique, provoca uma reflexão ao mostrar que há muita coisa errada na criação daquelas crianças daquela época. Não é de se surpreender que quando um garoto brinca com uma arma de brinquedo no início do filme choque; ou quando a criança mais espoleta no ambiente começa a cantar uma música pornográfica de mau gosto; ou ainda quando duas crianças simulam sexo no quarto.
A obsessão por piadas de cunho sexual que Julie Delpy tem em todos os seus filmes (inclusive na trilogia Before) não é novidade, mas é sensacional como ela consegue fazer tudo isso de forma bastante sutil nesse filme. O humor, aliás, é daqueles sagazes, nunca idiotas, e às vezes umas tiradas necessitam de uns segundos a mais de pensamento pra serem processadas. Isso demonstra uma não-preguiça do roteirista, o que é sempre muito bem vindo.
A ligação, com um corte rápido no início e no final do filme, pra deixar claro que aquela mulher que briga pelo lugar no trem é, na verdade, Albertine crescida, pode não oferecer a epifania necessária, mas é eficiente. A verdade é que a protagonista do filme é mesmo Albertine, muito bem interpretada pela menina Lou Alvarez, que é a única personagem que sofre de alguma trajetória ao longo do filme, começando de uma forma e terminando de outra. Mas, embora a narrativa sofra ao esquecer alguns personagens que são praticamente figurantes de luxo - todos os adolescentes exceto Christian, por exemplo -, todo o resto do filme se torna cativante. E como cereja do bolo, é sempre encantador ver Emanuelle Riva atuando (aqui, antes de Amour). É um daqueles filmes que podem muito bem ser vistos em família, que ninguém vai sair reclamando, mesmo com uma coisinha aqui, e outra ali que pode gerar incômodo. É um longa bastante satisfatório.