Pouca gente sabe, mas a França é o segundo país estrangeiro em número de lançamentos de filmes nos cinema do Brasil – atrás somente dos Estados Unidos, é claro. Restritos muitas vezes às capitais e cinemas alternativos, a maioria deles não encontra o grande público. Há poucas exceções, como o recente Intocáveis, que ultrapassou a marca de 1 milhão de espectadores e seguiu uma bem-sucedida campanha boca-a-boca. Este Eu, Mamãe e os Meninos foi um grande sucesso na França mas não repetiu o feito por aqui, por conta da tradicional limitação das salas de cinema. O filme poderia ter sido bem-sucedido no Brasil, até porque guarda muitas semelhanças com o nacional Minha Mãe é uma Peça. Ambos são baseados numa peça de teatro; as duas peças que deram origem aos filmes, por sua vez, também se baseiam em experiências pessoais dos seus diretores/autores; e nos 2 casos, o ator principal se caracteriza como sua mãe. Mas as semelhanças param por aqui.
Você já deve ter assistido muitos filmes sobre “sair do armário”, a maioria deles comédia. Eu, Mamãe e os Meninos vai um pouco mais além no assunto, e eu arriscaria dizer que se trata de um filme sobre a procura da identidade sexual. Criado por uma forte figura materna como se fosse uma menina, Guillaume vai percorrer uma via crucis de situações muitas vezes hilárias até entender qual o seu papel. O ator Guillaume Gallienne empresta seu próprio nome ao título original, não deixando dúvidas que o filme é mesmo autobiográfico. Ele é uma revelação tanto como ator como diretor. Como diretor, não deixando que a adaptação de sua peça para o cinema fique com um ar de teatro filmado, embora o filme comece num camarim e termine no palco. Como ator, em sua primeira vez como protagonista de um filme, além do desafio de atuar consigo mesmo, caracterizado na mesma cena como o filho e a mãe, Gallienne, já com mais de 40 anos, dá uma interpretação autêntica e extremamente convincente quando faz o papel de Guillaume adolescente, provando que fez toda a diferença sua longa experiência no teatro.
Ao contrário do filme de Paulo Gustavo, onde a mãe era a personagem central, no filme de Gallienne ele é o foco, mas a mãe é também questão principal, até como pivô para a compreensão final de sua condição, após muita psicanálise. Embora na minha opinião o filme dê algumas escorregadas quando apela para um humor mais escatológico, como na cena em que Gallienne contracena com a atriz alemã Diane Kruger (de Bastardos Inglórios) – uma sequência desnecessária – ele se redime com um belo final. Eu, Mamãe e os Meninos se propõe bem mais do que apenas fazer rir, e nisso se sai muito bem.