EMOÇÃO GENUÍNA
por Lucas SalgadoO britânico Stephen Daldry é um dos cineastas mais queridos em Hollywood. Em seus três primeiros longas (Billy Elliot, As Horas e O Leitor), conseguiu três indicações ao Oscar de Melhor Diretor. Em seu quarto projeto, Tão Forte e Tão Perto, ele ficou de fora da categoria, mas viu seu trabalho levar uma indicação de Melhor Filme. A questão é: existe motivo para toda esta idolatria? Pois bem, a resposta é simples: sim.
O diretor possui uma sensibilidade raramente vista no cinema norte-americano. Tão Forte e Tão Perto está longe de ser seu principal trabalho, mas é inegável que a mão de Daldry salva o filme de ser um melodrama desinteressante.
A história gira em torno de Oskar Schell, um jovem de nove anos que perde o pai no atentado terrorista às Torres Gêmeas em 11 de setembro de 2001. Ele sempre teve seu lado aventureiro incentivado pelo pai e ao encontrar uma misteriosa chave em sua casa parte numa jornada pelas ruas de Nova York.
Por mais contraditório que possa parecer, a grande força e o principal defeito estão na figura de Thomas Horn, que interpreta Oskar. O ator estreante traz uma inocência e um expressionismo que colaboram para o personagem. É inegável, no entanto, que deixa a desejar nos momentos em que lhe é exigido um maior talento dramático. Felizmente o filme consegue se segurar mesmo quando o protagonista desafina, pois sempre tem ao seu lado um grande intérprete, com destaque para Max Von Sydow.
Um dos atores favoritos de Ingmar Bergman, Von Sydow arrasa como o misterioso inquilino da avó de Oskar. Sem dizer uma só palavra, o astro sueco cativa por sua expressão quase sempre tranquila, mas também triste e traumatizada. Tom Hanks cumpre bem seu papel como o pai Thomas Schell, enquanto que Sandra Bullock brilha como a mãe Linda, que sofre com a perda do marido e com o afastamento do filho. Apesar de aparecer com pouco destaque, a atriz tem uma das melhores interpretações de sua carreira, superando inclusive o trabalho em Um Sonho Possível, que lhe rendeu um (injusto) Oscar.
Baseado no livro "Extremamente Alto e Incrivelmente Perto", de Jonathan Safran Foer, o longa é mais do que um simples cinema de autoajuda, sendo capaz de produzir emoções genuínas no espectador. É curioso notar que a emoção surge mais em razão da jornada de Oskar do que por sua perda em si.
O roteiro foi escrito por Eric Roth e segue o adotado por ele em Forrest Gump - O Contador de Histórias e O Curioso Caso de Benjamin Button. A diferença é que desta fez ele foca suas atenções em apenas um evento, enquanto que nos dois longas citados ele recheia a narrativa de referências a situações reais ocorridas na história da humanidade. Em termos de qualidade, o novo filme se aproxima mais de Benjamin Button, não alcançando a excelência de Forrest Gump.
Uma falha do texto, e da direção, é não ajudar muito na construção do personagem principal, dificultando a vida do inexperiente ator. Várias características são inseridas para logo em seguida serem abandonadas, como a "contagem de mentiras", por exemplo.
Contando com bela uma trilha sonora de Alexandre Desplat (O Discurso do Rei), que dita o ritmo da aventura, e com uma fotografia competente de Chris Menges (A Missão), que mesmo sendo britânico parece conhecer Nova York com a palma da mão, Extremely Loud & Incredibly Close (no original) é um filme que merece ser conferido, por mais que contenha várias imperfeições. Também merece destaque a direção de arte de Peter Rogness (Longe do Paraíso) e, principalmente, o figurino da premiada Ann Roth (O Paciente Inglês). A caracterização física e de vestuário de Oskar é um dos pontos altos da produção. É difícil não se interessar por aquela figura estranha andando pela rua de NY com um binóculo e um pandeiro.