Depois do filme de 1998, dirigido por Roland Emmerich e estrelado por Matthew Broderick, considerado até hoje bem abaixo da média (pra ser gentil), era mais do que aguardada uma nova versão do monstrengo. Desta vez, só nomes de peso para conseguir chamar novamente atenção do público para a criatura.
Joe (Bryan Cranston), um físico nuclear, suspeita que os seus estudos de atividades sísmicas indiquem algo maior do que o imaginado, até o dia em que um acidente de trabalho resulta na morte de sua esposa, Sandra (Juliette Binoche), e a pesquisa é abandonada. Anos depois, a área do acidente está em quarentena, toda a cidade foi evacuada e só restam escombros devido a possível radioatividade no local, mas Joe está obcecado em descobrir o que aconteceu. Seu filho, Ford (Aaron Taylor-Johnson), vai a procura do pai para evitar que ele faça alguma besteira, mas é tarde demais, eles encontram o que Joe suspeitava desde o princípio, que o governo esconde algo bem maior do que imaginávamos.
Um dos pontos mais interessantes do filme são as referências históricas usadas para caracterizar a veracidade da existência da criatura (como tsunamis e os ataques da bomba atômica do século passado, o que foi uma das inspirações para criação do personagem). Ao contrário do filme de 98, esta versão dirigida por Gareth Edwards pode ser comparada ao Godzilla original, e isto está evidente nas inúmeras referências ao filme clássico dos anos 50, desde o Dr. Ichiro Serizawa (Ken Watanabe), que leva o mesmo sobrenome do personagem interpretado por Akihiko Hirata, até mesmo a trilha sonora. Mas o que realmente fez diferença foi o monstro e suas características, que foram muito mais fieis.
O filme tem muitos pontos positivos, mas para cada um também existe um negativo. Um dos maiores exemplos é o drama. Sabemos que um filme catástrofe como este não pode ficar encostado o tempo todo na destruição, caso contrário seria bem cansativo, e pra isso foi necessário desenvolver um drama familiar. O problema está no que deveria ser a solução - e isto será explicado em breve.
O ponto máximo do filme é o monstro em si, não ha duvida alguma disso, nós temos vários planos sequência que revelam o mesmo aos poucos, seja através da luz de sinalizadores ou da silhueta formada entre a fumaça e os destroços. Esta foi uma forma bem inteligente de construir a tensão do filme (assim como aconteceu com Gloverfield, pra dar um exemplo mais atual) e causar um impacto ainda maior quando você realmente batesse de cara com a criatura. Dito isto, se você tem um personagem tão forte, incrível e icônico quanto este, você tem que ter um drama de primeira para segurar a atenção até que Godzilla tome conta, e é aí que está a maior falha do filme.
Por mais que tenham escolhido atores de primeira, eles não consegue sustentar um drama que seja realmente interessante. Cranston está muito bem, mas não surpreende como esperávamos; Aaron é o típico pai de família que deixa a mulher e o filho preocupados em casa enquanto corre o risco de morrer a qualquer momento. O mais triste é ver como o personagem que deveria ser o mais relevante é resumido a algo caricato, e este é Ken Watanabe, como um cientista cheio de frases de efeito sobre como a natureza funciona e a humanidade é ignorante demais para entender as leis da mesma (ótimo ponto, mas mal aproveitado).
Os pontos positivos são mais técnicos e de produção, como a trilha sonora de Alexandre Desplat, que está maravilhosa (uma das melhores que já ouvi) e a ótima direção, principalmente nas cenas que constroem a tensão, como a do "salto livre". As batalhas, mesmo poucas, são emocionantes.
O maior problema de Godzilla foi ter cedido aos clichés, mas se tirássemos todas as previsibilidades do roteiro e o drama fosse um pouco melhor, seria ainda mais memorável, já que o impacto e a escala da criatura é bem maior desta vez e a intenção não é só agradar aqueles que queriam um bom filme de desastres, mas os fãs do verdadeiro Gojira (como é chamado no original).