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    Bróder
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Bróder

    A Força da Amizade

    por Francisco Russo

    O cinema brasileiro está repleto de histórias retratadas na periferia. Este, ao contrário do que muitos possam imaginar, não é um fenômeno recente, impulsionado pelo sucesso de Cidade de Deus. Já em 1957 Nelson Pereira dos Santos lançou Rio, Zona Norte. Fato é que a vida nas comunidades em que o governo não está tão presente sempre foi atraente para os cineastas. Seja pela criminalidade, apoiando-se no potencial de maior bilheteria, ou pela desigualdade social, presente desde sempre na realidade brasileira. Entretanto, poucas souberam captar com tanta fidelidade o sentimento de origem quanto Bróder.

    A história é focada em Macu, interpretado com maestria por Caio Blat. Morador do Capão Redondo, bairro pobre de São Paulo, ele está envolvido com os preparativos para o sequestro de uma criança. Só não esperava ser surpreendido com uma festa surpresa organizada pela mãe, dona Sonia (Cássia Kiss), devido ao seu aniversário. Dois grandes amigos de infância, Pibe (Sílvio Guindane) e Jaiminho (Jonathan Haagensen), retornam ao Capão Redondo graças à festa. Cada um deles seguiu um caminho distinto na vida. Jaiminho tornou-se jogador de futebol e vive a expectativa de ser convocado para a Copa do Mundo. Pibe teve um filho e rala um bocado para manter as contas em dia. Já Macu descambou para a criminalidade, mesmo ainda sendo um iniciante nela. Três amigos, três destinos, uma história em comum.

    O reencontro do trio é emblemático. A felicidade estampada no rosto e as brincadeiras típicas, com uma boa dose de zoação, são marcas registradas. É a partir desta interação que Bróder é construído. Uma amizade de anos, afastada por conta dos rumos que a vida tem mas reatada tão logo se vêem. Em determinado momento do filme, o agente de Jaiminho lhe diz que ele “tem vocação para ser pobre”, ao saber que seu cliente irá à festa. Não é verdade. Há um elo entre os amigos, de união e companheirismo, que nada separa. Um sentimento difícil de ser compreendido por quem acredita que o material é o que há de mais importante na vida.

    Outro ponto alto é a sensibilidade com a qual é retratado o núcleo familiar de Macu. Cássia Kiss compõe uma mãe extremamente zelosa, seja através de atos ou, especialmente, do olhar. Ela está atenta a tudo e sempre age, seja retirando o copo de cerveja do marido ou acompanhando de longe a conversa da filha com Jaiminho. A interação entre a família e os amigos também merece destaque, pela existência de respeito e carinho mútuo.

    Bróder é um filme de DNA explícito, trazendo os maneirismos e as gírias típicas do Capão Redondo. Um trabalho de perfeccionismo, realizado pelo preparador de elenco Sérgio Penna, que atinge seu auge na performance brilhante de Caio Blat. É uma verdadeira incorporação de Macu, de forma a descaracterizar o ator por completo. Boa parte do mérito do filme é graças a ele, devido à hipnose causada junto ao público em certas cenas. Entretanto, há mais a ser visto em Bróder. Há companheirismo, respeito e a força da amizade. Bom filme.

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