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    Jovens Adultos
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    Jovens Adultos

    O "indie" cresceu

    por Bruno Carmelo

    Em 2007 chegava aos cinemas Juno, pequeno filme independente que despertou grande atenção da crítica e do público. Explorando o conflito de gerações (com uma adolescente grávida e adultos infantis), o diretor Jason Reitman e a roteirista Diablo Cody conseguiram provar que as produções modestas podiam ser incrivelmente rentáveis: o filme custou $7.5 milhões e arrecadou $231 milhões. O mercado passou a olhar o cinema "indie" com outros olhos, investindo cada vez mais nestas produções agridoces, que ironizam a sociedade sem ofender ninguém.

    Em seguida, Diablo Cody passou a escrever mais textos sobre o lugar das mulheres na sociedade (Garota Infernal), enquanto Jason Reitman explorou mais uma vez as diferenças de gerações em Amor Sem Escalas, trocando o embate entre adolescentes e pessoas de 30 anos pelas diferenças entre o amor aos 20 anos e o amor aos 40. O tom era um pouco mais amargo, menos juvenil, mas o sucesso ainda estava presente.

    Assim, foi uma grande surpresa que Jovens Adultos, nova parceria entre Reitman e Cody, tenha sido um grande fracasso de bilheteria nos Estados Unidos (custou $12 milhões, arrecadou $16 milhões no mercado americano), e que também não tenha agradado à crítica. O estilo do diretor permanece intacto, a ironia da roteirista também. O tema também é, sem surpresas, o embate entre gerações: Mavis Gary (Charlize Theron) é uma escritora de livros para "jovens adultos", de sucesso modesto. Diante do vazio de sua vida na cidade, ela retorna à pequena cidade natal no intuito de reatar com o antigo namorado da adolescência (Patrick Wilson). Mavis é constantemente confrontada com sua falta de maturidade, mas parece convencida de que é possível reencontrar aquela felicidade nostálgica dos tempos do colégio.

    O que lhe espera, no entanto, é uma cidade que vê nesta mulher uma espécie de sucesso esnobe, acolhendo-a com tanta admiração quanto desprezo. A única pessoa que parece compreendê-la é Matt (Patton Oswalt), deficiente físico há anos, após uma agressão durante os anos de escola. Matt amarga o fato de terem lhe roubado mesmo a piedade e atenção reservada aos deficientes, já que um cadeirante da cidade tornou-se um esportista, uma lição de vida e de otimismo, monopolizando as atenções locais.

    Como pode se perceber, Jovens Adultos é um conto bastante amargo sobre a vida adulta. Enquanto Juno enfrentava todos os seus problemas com um sorriso no rosto (e o roteiro escondia tanto a evolução da gravidez quanto as dúvidas típicas sobre a maternidade), e ao mesmo tempo em que George Clooney em Amor Sem Escalas livrava-se do vazio com discursos de autoajuda, a pobre Mavis Gary não tem nenhum momento de redenção. Pelo contrário: as passagens do tempo fundamentais ao otimismo de Juno e Amor Sem Escalas (do tipo "as coisas eram ruins antes, mas tudo fica melhor mais tarde") desaparecem em Jovens Adultos, um filme colado ao tempo real, que explora do começo ao fim justamente o período de crise da protagonista. Acabou a alegria do indie: agora o roteiro encara a tristeza com os olhos nos olhos.

    Não que falte humor, longe disso. A história é recheada de momentos sarcásticos, cínicos, mesmo se essa risada não é mais dirigida à sociedade toda, e sim à própria personagem. Enquanto nos outros filmes citados acima, o roteiro defendia os personagens e criticava "os outros", agora aponta-se o dedo para a própria protagonista. Chega a ser curiosa a reação da crítica diante desta comédia. Um crítico brasileiro reclamou que o filme "parece não gostar de sua personagem", já um americano disse que Jovens Adultos "espalha más vibrações como um vírus", outro ainda afirmou que "não pode ser engraçado o estudo de uma sociopata".

    Pois me parece que, ao contrário, o tal cinema independente nunca foi tão maduro. O "indie" abandona em Jovens Adultos a obrigatoriedade de ser um "feel good movie", ou seja, uma produção apenas para se passar um momento agradável nas salas de cinema. Esta comédia é triste, mas também de uma complexidade ímpar no seu olhar sobre o ser humano. Reitman e Cody enxergam as tristezas e o vazio tanto da escritora de sucesso quanto do amigo paraplégico e do antigo namorado de colégio, hoje um pacato pai de família. Esta democrática incompletude passa a ser um direito de todos.

    Ao invés de opor as gerações, o roteiro acaba por atribuir a insatisfação tanto aos adolescentes quanto aos adultos. Acabaram as cartelas pretas que aparecem no final dos filmes, dizendo que três anos mais tarde, os personagens casaram-se e tudo ficou bem. Tanto para os ricos moradores da cidade quanto para os pacatos habitantes do campo, ficará sempre o descontentamento de si, o desejo de ser como o outro. A grama do vizinho será sempre mais verde. Este niilismo com um sorriso nos lábios faz de Jovens Adultos uma experiência muito mais enriquecedora e memorável do que qualquer outra comédia indie que tenha chegado aos nossos cinemas.

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