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    A Fonte das Mulheres
    Críticas AdoroCinema
    4,5
    Ótimo
    A Fonte das Mulheres

    DILUINDO DOGMAS

    por Roberto Cunha

    Drama ou comédia? Fantasia ou realidade? Antes que você considere esse início de texto muito enigmático para o seu gosto, saiba que a razão das duas perguntas reside no simples fato de que A Fonte das Mulheres transita nestes caminhos, revelando uma história séria, divertida, realista e mágica.

    Nela, uma aldeia ali pelo Oriente Médio vem passando por uma crise causada, principalmente, pela falta de água. Só que esse passa a ser o menor dos problemas quando uma de suas habitantes resolve organizar um motim feminino para quebrar uma regra machista do islamismo, fazendo de uma greve de amor o estopim para uma grande revolução cultural.

    "É o nosso único poder sobre os homens", dirá ela, sem saber que a reboque dessa "violência amorosa" viriam duras consequências, além de outras reinvidicações adormecidas nas mentes dessas "guerreiras" incansáveis em tarefas árduas, mas sem coragem de questioná-las.

    Inteiramente falado e cantado em dialeto marroquino (pode causar estranheza), o roteiro parte da violência de um aborto em contraponto com o nascimento de um menino para cutucar em velhas tradições, como o perigo da leitura, o casamento sem amor, a contracepção, a virgindade e até mesmo a política suja por trás da defesa desses dogmas.

    Dirigido pelo francês Radu Mihaileanu, não chega a ser um musical, mas tem a música em seu DNA como personagem catalisador das mudanças. É através das letras que o espectador e os antagonistas (os homens) se dão conta de que algo está - de fato - acontecendo. Embora a primeira experiência não seja das melhores, o que se vê (e ouve) nos momentos seguintes é recompensador. O mesmo pode-se dizer da trilha de Armand Amar, com quem o cineasta já trabalhou em Um Herói do Nosso Tempo (2005) e O Concerto (2009).

    Com elenco coeso, a veterana Biyouna deve agradar muita gente com o personagem Velho Fuzil. Destaque também para o choque dos "machos" diante dos turistas e no "duelo cântico" em evento anual das tribos, pois tem a magia dos musicais, ainda que sem a grandeza deles.

    Entre as referências mundiais, o clássico literário "As Mil e Uma Noites" e as novelas mexicanas são citados. E quando se fala em ausência de fluidos provocando uma guerra, ver uma bela e velada cena de orgasmo quase que simultânea a de uma água saindo por um cano, é fácil entrar no clímax da obra e se extasiar.

    Para aqueles que acham que explorar este tipo conflito não tem nada de novo, o diferencial aqui foi o equilíbrio na carga de drama e humor frente ao poder do Alcorão e os líderes de uma comunidade. Assim, vença as barreiras do idioma, deixe o preconceito de lado e verá que se encantar com essa produção não hollywoodiana está longe de ser haraam*.

    * proibido

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