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    A Tentação
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    A Tentação

    Fé na berlinda

    por Lucas Salgado

    Um sujeito sobe no parapeito de um enorme edifício disposto a se jogar. Mas antes conta sua história para o negociador da polícia que deseja impedi-lo de cometer suicídio. Esta é a premissa de A Tentação, que desenvolve sua narrativa a partir dos relatos de tal sujeito, sempre escondendo do espectador o que está realmente acontecendo.

    Antes de chegar a tal posição, Gavin Nichols surge como um sujeito boa pinta e bem humorado. Aos poucos vamos conhecendo alguns elementos de sua história que ajudam na construção de um personagem tridimensional. Determinado dia, ele sai para o trabalho e se depara com um casal se despedindo no corredor de seu prédio. Pouco tempo depois, ele vê que sua nova vizinha era uma candidata a emprego no hotel em que trabalha. Gavin, então, começa a se aproximar dessa mulher, que atende pelo nome de Shana, ao mesmo tempo que desperta a atenção do marido dela, Joe.

    Gavin é vivido por Charlie Hunnam, destaque da série Sons of Anarchy. O ator se sai relativamente bem, mas sofre com o fato de que é difícil por parte do público aceitar e se identificar com algumas de suas atitudes. Já Shana é vivida com extrema competência por Liv Tyler, que chama atenção por apresentar uma expressão séria e quase que perturbada durante toda a narrativa. Para interpretar Joe, foi chamado Patrick Wilson, que é o grande nome do filme. O ator, que já havia chamado atenção em Pecados Íntimos, brilha ao dar vida a um fundamentalista religioso que não se conforma em ter um ateu como vizinho. O elenco conta ainda com a presença de Terrence Howard, que interpreta o policial.

    As atuações estão dentre as melhores coisas de A Tentação, assim como o envolvente e nunca chato roteiro de Matthew Chapman. Ele aborda temas sérios como fundamentalismo, fé, infidelidade, intolerância e, até mesmo, homossexualismo, através do companheiro da apartamento de Gavin. Tudo é tratado sem a necessidade de se criar caricaturas. Joe é um exemplo claro disso, que mesmo sendo absolutamente radical demonstra algumas variações de personalidade em cena impressionantes, como notamos sempre que se contorce ao ouvir Gavin falando um palavrão na frente da mulher.

    Embora tenha sua função no longa, a trama paralela do personagem de Howard em nenhum momento desperta o interesse do espectador e por isso é estranha a opção do filme começar com ela. Um detalhe interessante está no fato de A Tentação em nenhum momento defender seu protagonista. Em determinando instante é possível, inclusive, ver o personagem do policial contestando tal atitude de Gavin, que se tomasse outro caminho poderia mudar a situação.

    Chapman também é o responsável pela direção e realiza um bom trabalho na condução da história e apresentação dos personagens. Merecem destaque a trilha sonora de Nathan Barr, que já havia se saído bem na construção de um suspense em O Último Exorcismo, e a fotografia de Bobby Bukowski.

    The Ledge (no original) conta a história do que leva um homem a ficar na berlinda, merecendo aplausos pelo corajoso discurso, em especial nos momentos em que questiona a cegueira religiosa não apenas de Joe, mas também do companheiro da apartamento, que é praticante da Cabala. Não se trata de um longa com discursos fáceis.

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