Um puta programa urbano
por Roberto CunhaCom dezenas de indicações e prêmios, entre eles três Oscar (Nascido em 4 de Julho, Platoon e O Expresso da Meia-Noite), Oliver Stone andou dando uma escorregada nos últimos tempos, apresentando obras medianas. Para uns, bem mais abaixo do que isso. Agora, eis que o polêmico cineasta retoma a pegada do passado e com toques de modernidade. A fórmula? Dois atores ainda em fase de explosão, duas mulheres explosivas (uma verde e outra madura), dois astros que dispensam maiores apresentações e um roteiro interessante. Jogou no caldeirão e bum! Selvagens é o nome dele.
Na história, debochada até dizer chega, dois caras (Aaron Johnson e Taylor Kitsch) produzem, consomem e vendem maconha da melhor qualidade, além de dividirem a mesma gata (Blake Lively). A onda deles só não continua a mesma porque eles entram na mira de um cartel mexicano, controlado por uma mulher impulsiva (Salma Hayek) e com um capanga (Benicio Del Toro) louco por poder.
Apesar de muito bem relacionado$ com um corrupto agente (John Travolta) do departamento anti-drogas americano, as coisas acabam saindo do controle e uma sequência de crimes transforma a vida deles numa verdadeira bad trip.
O roteiro escrito por ele e Don Winslow, autor do livro homônimo, joga muita erva no caldeirão, mistura com quimioterapia, coloca um papo pró e outro contra as drogas, cita Hilary Clinton, Bono Vox (U2), Afeganistão, Butch Cassidy e outros têmperos de qualidade. Como resultado o que se obtém são 130 minutos de boa adrenalina, turbinada com pitadas de cinema trash, além de câmera e edição estilosas. A trilha sonora é só um dos muitos pontos positivos. Entre os sons que se ouve, Peter Tosh ("Legalize It") e versões interessantes de "Here Comes the Sun" (Beatles) e "Psycho Killer" (Talking Heads).
O texto narrado ou dos diálogos é criativo e coopera com as brincadeiras sacanas. Um exemplo é o e-mail sinistro que chega com a indefectível musiquinha do seriado Chaves. Legal também citar a antológica dupla Cheech & Chong, personagens que adoravam queimar o cigarrinho do capeta em seus filmes dos anos 70 e 80. Aos que procuram falhas, é possível achar, como um esporro em inglês, quando o normal seria ele acontecer em castelhano.
Mas pra que ficar catando esse tipo de detalhe se o resto funciona?
Intenso, irônico e até estereotipado, o longa de mais de duas horas de duração tem elementos de sobra para deixar você preso na poltrona. Seja pelas sensuais cenas de sexo (moderado) ou pelo impacto da violência, marca registrada de seu condutor. E no contraste de seus protagonistas ("um trepa, o outro faz amor") e antagonistas, o que se descortina para o espectador é um filme de belas imagens, qualidade indubitável, com reviravoltas e um (?) final surpreendente. Ou seja, Selvagens é um puta programa urbano.