O cultuado livro de Antoine Saint-Exupéry, o terceiro livro mais vendido da história, que influenciou e, utilizando um verbo muito importante para o próprio príncipe, “cativou” gerações, foi tido como base para esta animação dirigida por Mark Osborne (responsável por Kung Fu Panda e outras animações). Não devemos comparar o livro com o filme, mas é impossível não relacionar uma coisa à outra. A obra de Saint-Exupéry é obrigatória, poética, e até mesmo ouso dizer de difícil assimilação, pois usa vocabulário deveras caprichado e o livro em si não me parece tão infantil assim justamente devido a todas as entrelinhas e complexidade interpretativa. Isso se mostra também no filme, nas partes em que o estilo de animação stop-motion toma conta da tela. Na verdade, essas são as melhores partes do filme, pois remetem diretamente ao livro, e além desta parte da animação ser extremamente bela, é onde são mostrados os trechos mais importantes, contundentes e bonitos do filme. Há um cuidado tão belo com essas passagens do livro (pois quando o stop-motion surge trata-se do livro sendo citado), que parece que estamos diante de dois filmes diferentes. A ideia de ter o aviador como contador da história do príncipe para uma menina e não para o espectador simplesmente, como que para passar adiante a beleza da fábula, é muito bem vinda. Os personagens são carismáticos, a animação muito bem realizada e a leveza é cativante. Contudo, o filme soa bastante irregular; enquanto o stop-motion funciona todo o tempo, o restante da animação parece por vezes deslocada, e o roteiro abre margem para um terceiro ato bastante desapontador. A busca da menina pelo príncipe faz com que o filme perca muito de sua força narrativa, e acaba resvalando numa série de situações muito desestimulantes e açucaradas, e que destoa por demais do restante do filme. Com essa caída de ritmo e de tato, o filme se perde em seu potencial, e acaba tornando seu desfecho genérico e pálido. Não emociona como poderia, apesar da belíssima mensagem. Acaba deixando aquele gostinho de decepção. Apesar disso, é um filme bastante bonito, mas que de forma alguma alcança a profundidade e o impacto que uma adaptação do livro poderia supor, mesmo tendo a história do Pequeno Príncipe somente pincelada como pano de fundo. Certamente agradará a maioria do público, mas que poderia ser melhor, ah isso poderia.