Eu sempre fico com medo quando as pessoas falam bem demais de um filme porque aí vou ao cinema cheia de expectativas e acabo me frustrando. Quando vi que "Gravidade" foi escolhido um dos dez melhores filmes do ano por ninguém menos que Quentin Tarantino, aí ferrou tudo. Pensei “pronto, já era, vou achar uma porcaria”. Ainda bem que, dessa vez, ninguém estava enganado.
Se eu fosse resumir todo o filme em apenas duas palavras, seriam: tenso e impressionante. Impressionante porque o visual é extraordinário – como é de se esperar de qualquer filme que envolva viagens espaciais –, o cuidado com os detalhes e a direção de arte é absolutamente fantástico, e a interpretação tanto de Clooney quanto de Sandra Bullock (especialmente dela – o que, ao menos pra mim, que ainda tinha aquela imagem da Miss Simpatia na minha cabeça, é uma bela surpresa) é impecável. Tenso porque a trama tem um ritmo narrativo bastante intenso, com vários plot points, um atrás do outro, mal dando tempo de o espectador se recuperar do susto anterior. Além disso, os diálogos são poucos, porém interessantes, conferindo a pitada perfeita de inteligência a um roteiro que é bastante simples – o que é, por sinal, uma das reclamações de alguns cinéfilos e críticos chatos por aí, como se apenas roteiros supercomplexos e elaborados pudessem render um bom filme (sério, me poupem, vão assistir Woody Allen).
Uma coisa que precisa ficar clara é que "Gravidade" é um filme muito mais de drama que de ficção científica, como alguns podem esperar. Não se trata meramente de uma missão da Nasa ao espaço para consertar um telescópio quebrado, mas da luta dos sobreviventes de um desastre para manter a calma e conseguir, em meio a um ambiente completamente desfavorável à existência humana, se virar e dar um jeito de voltar pra casa. Esse é o trunfo do filme: conseguir, com aquele pano de fundo magnífico que a ficção científica proporciona, ser um baita drama; uma história que, se não tivesse elementos dos dois gêneros mesclados, talvez não funcionasse tão bem e não tivesse a menor graça. Cuarón conseguiu criar um efeito paradoxal sensacional em sua obra: a sensação de claustrofobia no ambiente mais amplo que existe – o universo. Não tem como um troço assim não ser, no mínimo, interessante. Por fim, a cereja do bolo e grande sacada dos caras: quem dá voz à base Houston que orienta os astronautas é ninguém menos que Ed Harris, uma das principais figuras do clássico sci-fi "Apollo 13". Foi ou não foi uma idéia de gênio?
Com boas escolhas de elenco, um trabalho primoroso do pessoal dos efeitos especiais e a direção firme e certeira de Alfonso Cuarón, Gravidade é um drama-ficção que surpreende e vale a pena assistir (em 3D, de preferência) – se não por tudo isso que falei, ao menos pelo visual maravilhoso que enche os olhos cada vez que nosso belo planeta é mostrado lá do alto. Uma belezura.