Amor e Dor: reduzindo a imagem da mulher ao nada
Filme dirigido e escrito pelo cineasta chinês Lou Ye ( Borboleta Púrpura), a película conta a história da chinesa Hua (Corinne Yam) que vai para Paris estudar, e acidentalmente conhece o construtor civil Mathieu ( Tahar Rahim), homem rude e sem qualquer instrução, no entanto, as diferenças culturais não impedem que os dois iniciem uma relação doentia. Filme de 2011.
Antes de começar a falar do filme, creio que o nome deveria ser "O que as mulheres não podem aceitar dos homens", ou "Eu sou uma idiota e não tenho amor próprio", e por aí vai. Porque entre Hua e Mathieu poderia existir todos os tipos de sentimentos, menos amor. Não pelo que eu particularmente entendo como amor, aquele que cuida, que respeita, que quer ver o outro feliz. Em momento algum Mathieu fez isso por Hua. É o típico homem machista e egocêntrico.
Mas vamos por partes. Já no início do filme Hua aparece implorando amor a um ex-namorado que ela conheceu em Pequim, e que não queria mais nada com ela na França. Pressupõe-se então que Hua mudou-se para França apenas por causa deste homem. Ela sai desorientada pelas ruas de Paris, quando é atingida acidentalmente por uma barra de ferro que Mathieu segurava e é aí que os dois se conhecem.
Mesmo o primeiro encontro sendo para mim algo grotesco e desrespeitoso, ainda quis dar mais uma chance ao filme pois pensei que Hua estava tão triste e deprimida que não tinha mais nada a perder, no entanto, eu estava enganada porque o que vem a seguir é um grito latente à misoginia, machismo, estupro, e a imagem da mulher apática que deve aceitar calada tudo do "seu homem"
Cenas de sexo excessivas que cansam, uma mulher culta com um futuro promissor se sujeitando a abusos físicos e verbais, simplesmente não entra na minha cabeça. E não é porque Mathieu não teve oportunidade de estudar, ele é assim. Creio até que o filme foi preconceituoso quanto a isso já que Mathieu é a personificação do homem das cavernas, enquanto que o namorado de Hua que morava em Pequim, professor universitário, culto, era um verdadeiro príncipe. Qualquer pessoa bem informada sabe que a violência contra a mulher não escolhe classe social.
Eu ainda quis dar uma chance ao diretor e pensei: "talvez ele queira mostrar o como existem mulheres afundadas nesse tipo de relação!" Mas não! Não se pode pegar uma personagem e torna-la vítima de suas escolhas! Por que não mostrar uma mulher forte, que diz "não"? Mesmo que o preço que ela tenha que pagar seja alto?
Este não é um filme romântico. Lou Ye foi completamente infeliz com seu roteiro e direção, talvez o único mérito do filme seja questionar essas relações doentes.