Inocência perdida
por Lucas SalgadoElles é um filme diferente. Centra suas atenções na personagem de Juliette Binoche e, aparentemente, apresenta uma série de situações que parecem levar a lugar algum. O longa passa pelo espectador e parece que nada aconteceu, que nenhum sentimento despertou. Não inova em termos de narrativa e muito menos tecnicamente. Então, temos um filme ruim? De forma alguma, o que temos é uma produção que aposta no sentimento e nas sensações. Trata-se de uma obra que fica na cabeça de quem assiste por um bom tempo.
Binoche (linda e talentosa, como de costume) vive uma jornalista que está escrevendo um artigo sobre jovens prostitutas. Enquanto relembra as entrevistas com duas garotas, ela vive um dia normal de sua rotina, se preocupando com a educação dos filhos e preparando um jantar para colegas de trabalho do marido.
Anaïs Demoustier e Joanna Kulig são duas revelações na pele das garotas de programa. A primeira, inclusive, empresta uma sensibilidade e uma cara angelical muito interessante para a personagem. Por mais que os papéis não sejam muito complexos, a contraposição deles em relação à quase dona de casa é o grande trunfo do longa.
Apesar do estilo de vida das prostitutas serem objeto de estudo do artigo da protagonista, isso não está em xeque na produção. Não se trata de um filme que se preocupa em fazer julgamentos. Não existem culpados e, muito menos, inocentes.
Além do trio feminino, destaque-se no elenco o ator Louis-Do de Lencquesaing, que vive o marido de Binoche. Ele já havia tido boas presenças em L'Apollonide - Os Amores da Casa de Tolerância e Políssia, obras que também possuem temas relacionados ao sexo. Com relação à L'Apollonide, o novo longa possui algumas outras semelhanças, como o fato de mostrar como a vida profissional das prostitutas pode contar com momentos belos e brutais, e que muitas vezes ocorrem quase que simultaneamente.
É curioso que Elles começa com uma forte cena de sexo e que possui outras até o final, mas as sequências mais marcantes talvez sejam aquelas mais simples e até mesmo banais, como um café da manhã em família. Não se trata de um longa fácil de se explicar e muito menos um difícil de se compreender. Como disse na primeira frase, é um filme diferente.
Escrito e dirigido por Malgorzata Szumowska, a produção conta com uma excelente trilha sonora, que mescla músicas clássicas e melodias pop em momentos importantes da história.