"O Passageiro" ("The Commuter", 2018), dirigido por Jaume Collet-Serra e estrelado por Liam Neeson, é um thriller psicológico que mistura ação e suspense, mantendo o público preso à trama do início ao fim. Embora compartilhe elementos com outros filmes da carreira de Neeson, como "Sem Escalas" (também dirigido por Collet-Serra) e "Busca Implacável", "O Passageiro" se destaca por elevar a tensão a um novo nível, tornando-se um dos filmes mais eletrizantes da carreira do ator.
A trama acompanha Michael MacCauley (Neeson), um ex-policial que agora trabalha como corretor de seguros, cuja vida é virada de cabeça para baixo quando, após perder o emprego, recebe uma oferta enigmática enquanto está em seu trajeto diário de trem. Uma mulher misteriosa (interpretada por Vera Farmiga) lhe propõe uma quantia em dinheiro para identificar um passageiro específico no trem, sob ameaça de consequências letais para todos a bordo. O filme constrói seu suspense à medida que Michael se vê preso em um jogo perigoso de intriga e manipulação, sem saber em quem confiar e com a vida de muitos em suas mãos.
Um dos pontos altos do filme é a construção de Michael, o personagem central de Neeson. Ao contrário de outros protagonistas de ação, que são frequentemente representados como invencíveis, Michael é um homem comum, de meia-idade, enfrentando dificuldades financeiras e familiares. Ele não possui os recursos ou o treinamento de um super-herói, o que torna sua situação ainda mais desesperadora e realista. Essa abordagem humaniza o personagem e cria uma identificação imediata com o espectador, tornando suas ações e decisões mais verossímeis. A luta de Michael para proteger sua família enquanto tenta desvendar o mistério do trem é o que move a narrativa, e Neeson oferece uma atuação sólida, equilibrando vulnerabilidade e determinação.
O roteiro de "O Passageiro" se destaca por sua habilidade em criar uma atmosfera de crescente tensão. O espectador, assim como o protagonista, se encontra imerso em uma situação aparentemente sem saída. A cada nova pista ou obstáculo, o cerco se fecha em torno de Michael, intensificando o senso de urgência. As reviravoltas, muitas vezes imprevisíveis, mantêm o suspense vivo até o último ato, criando uma jornada de descoberta que desafia a mente e os nervos. A forma como o filme explora o espaço limitado e claustrofóbico do trem é particularmente eficaz, amplificando a tensão a cada nova cena.
Além disso, o roteiro consegue manter o equilíbrio entre a tensão crescente e o drama pessoal de Michael, que, além de estar no meio de uma conspiração mortal, está preocupado com o futuro de sua família. O drama pessoal é costurado de forma inteligente ao suspense, criando camadas de profundidade emocional que acrescentam ao envolvimento do público com a trama. A questão ética sobre o que Michael está disposto a fazer para salvar sua família é central ao conflito, tornando o filme não apenas um thriller de ação, mas também uma reflexão sobre moralidade em momentos de desespero.
O clímax do filme é, sem dúvida, um de seus momentos mais impactantes. Conforme a tensão atinge seu ápice, a revelação da identidade do passageiro procurado e as verdadeiras intenções por trás do plano são surpreendentes e bem orquestradas. A sequência final, em particular, é de tirar o fôlego, tanto pela ação explosiva quanto pelas emoções envolvidas. O desfecho oferece ao público uma resolução satisfatória, sem perder o tom de urgência e perigo que permeia todo o filme.
Apesar de seus pontos fortes, "O Passageiro" não está isento de falhas. Alguns críticos apontaram que certos aspectos do enredo exigem uma suspensão significativa da descrença, especialmente em relação à plausibilidade de algumas das ações e reviravoltas. Há momentos em que a lógica do filme pode parecer exagerada, e o vilão principal, uma vez revelado, pode ser visto como um tanto caricatural. Contudo, para o público que busca entretenimento de alta tensão, esses pontos são facilmente superados pelo ritmo acelerado e pela narrativa envolvente.
É importante destacar que, ao contrário de outros filmes de ação protagonizados por Neeson, "O Passageiro" é mais focado no suspense psicológico do que em sequências de luta ou perseguições intensas. A ação existe, mas ela é equilibrada com a complexidade do mistério central. Essa abordagem permite que o filme se distinga dentro do gênero e reforce o talento de Neeson para interpretar personagens profundos, em vez de meramente heróis de ação unidimensionais.
O sucesso do filme com o público, muito semelhante à recepção de "Sem Escalas", pode ser atribuído ao fato de que ele entrega exatamente o que promete: uma trama cheia de suspense e tensão, conduzida por um protagonista cativante. Para os fãs de thrillers que gostam de acompanhar uma história de mistério e perigo em tempo real, "O Passageiro" oferece uma experiência satisfatória e imersiva.
O filme se destaca como um dos filmes mais tensos da carreira de Liam Neeson, com uma narrativa que prende o espectador e um final que faz jus à expectativa gerada. Embora tenha alguns exageros, o filme compensa com uma construção eficiente de suspense e um protagonista que, embora em uma situação desesperadora, mantém o espectador torcendo por sua sobrevivência. Para aqueles que apreciam um thriller psicológico com uma boa dose de adrenalina, "O Passageiro" é uma escolha certeira.