BIDIMENSIONAL
por Lucas SalgadoRedenção chegou aos cinemas apenas com cópias 2D, o que não é nenhum problema, até por não fazer sentido a utilização do 3D em um produto sério e com poucos efeitos visuais como este. O problema é que não é apenas o filme que possui duas dimensões. O personagem principal também é bidimensional, o que prejudica muito o desenvolvimento da narrativa. Interpretado por Gerard Butler, Sam Childers é um motoqueiro usuário de drogas que se torna um grande defensor das crianças no Sudão e o grande porém do longa é justamente não fazer bem esta transição.
No início, Sam é quase que o diabo em pessoa. Não respeita a filha, explora a mulher e abusa do consumo de drogas. Consegue seu dinheiro através de pequenos roubos e vê com maus olhos a religiosidade de outros membros da família. Pouco tempo depois, vemos Sam como um filantropo apaixonado que sonha em ajudar as crianças africanas na luta contra um regime duro e sangrento. Há alguma variação na personalidade no decorrer da história, mas é sempre um estado ou outro. Ou é bom e simpático ou mau e desagradável.
Butler se sai bem quando lhe é exigida uma performance mais física, como ocorre nas cenas passadas na África. Mas está muito artificial no início do filme, quando tenta dar uma de durão. Michelle Monaghan e Michael Shannon completam o elenco e desempenham bem seus papéis. O mesmo não se pode dizer da jovem Madeline Carroll (Os Pinguins do Papai), que interpreta uma jovem que deve ter 15 anos, mas age como se tivesse sete.
O longa marca mais um ponto negativo na carreira de Marc Forster. O diretor brilhou em A Última Ceia e Em Busca da Terra do Nunca, mas nos últimos anos vem falhando sucessivamente em obras como A Passagem e 007 - Quantum of Solace. Ele realizou também O Caçador de Pipas, que possui falhas semelhantes às vistas em Redenção, com a ressalva que consegue emocionar em alguns poucos momentos.
Machine Gun Preacher é o título original da produção e é uma pena que os distribuidores no Brasil não tenham conseguido bolar uma tradução mais criativa do que "redenção". Durante o longa, quando o personagem de Butler é chamado de "machine gun preacher" a legenda traduz como "pastor da metralhadora". Sem dúvida seria um título melhor, mas também não dá para dizer que um novo nome melhoraria a qualidade da produção.
A artificialidade e a superficialidade são marcas do filme e acabam por prejudicar a interessante história, baseada em fatos reais. O momento menos fake acaba sendo os créditos finais, quando aparece o verdadeiro Sam.
Parceiro de longa data de Forster, Roberto Schaefer é o responsável pela direção de fotografia e se sai bem ao retratar a Árfica com cores quentes e os Estados Unidos de forma sóbria - embora não seja uma ideia nada nova (César Charlone fez isso com maestria em O Jardineiro Fiel).
Se a fotografia vai bem, o mesmo não se pode dizer da edição abrupta de Matt Chesse e da trilha sonora sem alma de Asche e Thad Spencer. A verdade é que Redenção poderia ser uma produção bem mais interessante se contasse com um roteiro mais bem trabalhado. Antes deste, o roteirista Jason Keller tinha escrito apenas o telefilme Confissões de um Apostador em 2002. Tal falta de experiência é notória.