COMÉDIA QUE PASSOU DO PONTO
por Roberto CunhaO que você faria se tivesse uma semana de liberdade do seu relacionamento fixo para realizar seus desejos?
Partindo dessa boa premissa, os irmãos Bobby Farrelly e Peter Farrelly, que conquistaram uma boa parcela do público com a comédia absurda Quem vai ficar com Mary? (1998) e estavam afastados do cinema desde 2007 quando realizaram o divertido Antes Só do que Mal Casado, colocam em xeque a vida a dois e o que acontece quando existe a possibilidade de ser a três, a quatro ou mais do que isso.
Conhecidos pelo estilo ousado, as vezes esdrúxulo, de explorar situações comuns em filmes que saem de suas cabeças incomuns, como aconteceu no ótimo O Amor é Cego (2001), tudo indica que em Passe Livre eles passaram do limite e do bom senso. Apesar de ainda abordar um assunto rotineiro (a traição) e com um viés quase machista, "sobrou" muita coisa para um resultado satisfatório, apesar da boa brecha deixada para mostrar o lado feminino da moeda.
Na história, os amigos Rick (Owen Wilson) e Fred (Jason Sudeikis) são casados e andam penando para conseguir uma simples transa com suas respectivas esposas Maggie (Jenna Fisher) e Grace (Christina Applegate). Depois de um papo sobre a mulher dos sonhos durante um jogo de cartas com amigos, uma delas ouve o "trêlêlê" dos machos e como fêmea machucada resolve dar uma semana de liberdade para o marido realizar suas fantasias e a ideia maluca ganha a adesão da amiga.
Ao mergulhar com os personagens na nova realidade percebe-se rapidamente que a prática era diferente da teoria para eles e, curiosamente, nem tanto para elas. Espremido entre cenas que beiram o grotesco, o texto aborda várias questões sem muitas sutilezas, como o peso da idade, a (i)maturidade e a traição propriamente dita. E pode até provocar alguma reflexão, mas só depois que passar o efeito do choque porque não dá para ser diferente diante de enxurrada de situações bizarras, algumas até engraçadas.
Além de closes frontais penianos, coco "plantado" num belo campo de golfe ou espirrado na parede, será mais fácil para o espectador comum se divertir com a gafe cometida com os vizinhos metidos a besta ou na genial cena em que um amigo bon vivant (Richard Jenkins sui generis) mostra para eles como distinguir as mulheres dentro de uma boate.
Entre as curiosidades, uma masturbação ao som de ”The Best of Times”, hit de 1981 do grupo Styx cuja letra cabe um senhor duplo sentido, uma cena até certo ponto engraçada com Stephen Merchant nos créditos finais (já que está na sala, não saia antes) e ainda uma interessante pergunta: “É certo trair mesmo quando ela deixa?”.
Para os que curtem as citações, "presença" da vinheta sonora de passagem do seriado Law & Order pontuando a contagem dos sete dias e uma repetida piada (?) com o programa Kathy Griffin: My Life on the D-List com direito a uma pequena ponta da própria humorista.
Assim, se no roteiro é dito - e na vida já é notório - que as palavras machucam, faltou para a dupla responsável pela obra fazer o dever de casa e amenizar nas imagens que ferem ainda mais. Contudo, não dá para dizer que Passe Livre é um programa perdido, mas está longe de ser um passaporte seguro para a diversão absoluta.
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