A Culpa é do Javali!
por Francisco RussoEm meio ao gigantismo dos cânions, em um cenário árido, três soldados americanos perambulam. Conversam, brincam, estão de bom humor. Ao parar para descansar, um deles confere se há algum inimigo por perto. Ele não nota que há alguém escondido, dentro de uma caverna. Consigo, uma bazuca. O nervosismo é nítido, pela tremedeira do corpo e a tensão da situação. Ao notar que será descoberto, não pensa duas vezes: dispara. Em questão de segundos, os três soldados não estão mais lá. Foram destruídos, destroçados, sem a menor piedade. Assim também será caçado o autor deste disparo.
Assim é Essential Killing, filme que rendeu a Vincent Gallo o prêmio de melhor ator no Festival de Veneza. Trata-se de um filme cru, bastante duro e bem realista, que narra a luta desesperada pela sobrevivência. E, em meio a esta busca, vale absolutamente tudo. Desde matar sem pensar duas vezes aqueles que cruzam seu caminho, e podem impedi-lo, até se alimentar de formigas e cascas de árvores, devido à fome absoluta.
O curioso na trama é o contrasenso gerado pelo que causa esta fuga desenfreada. O exército americano não vê problemas em torturar seus prisioneiros, de forma a obter o que deseja. Mas, ao transportá-lo, é para evitar o atropelamento de um javali que o caminhão tomba na estrada, possibilitando a fuga. Ou seja, não há bons tratos com os seres humanos sob custódia, mas há clemência para evitar que um singelo animal seja morto. Interessante o comportamento dúbio apresentado.
No mais, Essential Killing retrata a luta pela vida. Vincent Gallo se destaca pela entrega absoluta ao personagem, com expressões faciais e corporais que deixam claros o sofrimento e o desespero daquele homem que deseja apenas permanecer vivo. E dizendo pouquíssimas palavras, se expressando mais através de gritos guturais que expressam tão bem a dor que sente. Bom filme, com cenas necessariamente fortes.